segunda-feira

Capítulo 15 - A Praia


- Então nós saímos na quarta? - Sal perguntou, sentando ao meu lado no sofá.

- Aham. Marcela já tá bem, dá pra gente viajar de tardezinha e limpar logo tudo por lá. - Breno disse, virando o restinho de cerveja. - Deve ter dunas de poeira.

- E eu vou perder mais um dia inteiro de treino, o Municipal já é semana que vem, gente! 

- Você precisa descansar dessas nóias, acabou de ficar boa dessa enjoadeira louca, ora Marcela! - Bruno falou com a boca cheia de batatas. 

- Tem muito tempo que a gente não vai lá. - Falei, riscando a lista de compras aleatóriamente. 

- Quem vai tanto mesmo? Eu, Marcela, Verônica, Breno, Bruno, a amiga dele... - João engasgou por um segundo, ninguém notou, magina. - Beca, Alice, Sal... Mais alguém?

- Érr, eu sei que eu devia ter falado antes... Mas eu posso levar um amigo também? - Bruno parou de mastigar sua batata, Alice sorriu e Verônica soltou uma risadinha marota: 

- Humm, e quem é o bofe, Beca? 

- Nada de bofe não gente, amigo mesmo. - Respondi, como se não tivesse visto o jeito que Bruno olhou pra mim. - Só amigo. 

- Então ótimo, Beca e o amigo dormem em quartos separados e o resto dos casais dividem? - Sal procurou as confirmações e olhou pra mim com um ar preocupado de quem já sabia que amigo era esse.

- Beleza. - Todos confirmaram.

Dividimos as despesas e guardei a lista de compras na minha bolsa. Alice continuou no colo de Sal mesmo depois que eu saí do sofá, João e Marcela ficaram lavando a louça enquanto Bruno, Verônica e Breno riam de alguma coisa na tv de domingo. 

Eu fui saindo quieta pra escadaria, tentando não ser notada. Nem dois minutos que eu tava lá, sentada, na minha, com meu pratinho de brigadeiro na mão: 

- Amigo, é? - Verônica chegou serelepe do meu lado e sentou. Alice, do mesmo jeito, do outro lado:

- Anda Beca, diz logo quem é? A gente ficou curiosa! 

- Bora Beca, desembucha logo que eu tenho um bocado de prato pra enxugar ainda. - Disse Marcela, dando um tapinha no meu ombro.

- É só o Renato, gente. Não precisa ficar com esses mimimi todo. 

- Beca, não me diga que você tá tendo um caso com o seu chefe. - Alice falou com a voz dela de preocupada. 

- Não gente, não tô não. Ele é meu amigo. Só isso. 

- Sal um dia desses me falou que vocês que ficam de conversinha o tempo todo! 

- E ele dá em cima de você que eu sei, e... - Verônica contava nos dedos.

- E ele é gay, gente. - Eu respondi entediada, enfiando a colher cheia de brigadeiro na boca. 

- Gay?!

- Como assim "gay"? - Alice e Verônica falaram ao mesmo tempo, indignadas.

- Um cara gato daquele devia ser proibido de beijar rapazes por lei. 

- Isso é bem verdade mesmo, viu Marcela? - Verônica concordou. 

- Ele disse que ia pra eu nao me sentir mal lá com o Bruno e a avulsa da vez. Não digam isso pros meninos, por favor. Se Bruno ficar sabendo eu vou parecer mais otária do que estou parecendo agora. 

- Você não tá parecendo otária. - Marcela bagunçou meu cabelo - Tá parecendo esperta, isso sim. 



Quarta à noite. Três toques na porta. E eu ainda tava procurando um canto pra socar a toalha na mochila. 

- Pode entrar! - Falei. 

- Oi Rebeca. - Droga. - Posso pegar a mochila? Só tá faltando a sua.

- Claro, Bruno. - Fechei o zíper, entreguei a mochila pra ele e fiquei com a toalha na mão. 

Ele continuou parado lá. 

- Você vai no carro com a gente ou o seu - Pigarro - amigo vai...? - 

- Ele já deve estar chegando por aí... - Ele concordou com a cabeça, amuado, olhando pra baixo. - Tá tudo bem com você? 

- Tudo bem sim. - Falou, levantando o olhar pra minha cama. - É que eu lembrei... Deixa pra lá. 

- Melhor deixar pra lá mesmo. - Tratei de falar rapidamente, pegando o resto das minhas coisas pra sair dalí o mais rápido possível. - E, hum, a sua amiga, cadê? 

Perguntei num sorriso irônico, enquanto passava pelo corredor. Todo mundo já estava lá fora.

- Ela vai encontrar a gente por lá... - Ele segurou meu braço. - Beca.

Meu coração apertou. 

- Oi. - Buzinas soaram lá fora, uma voz muito parecida com a de Renato gritou: 

- VAMO BECA! - Mas a gente ficou congelado lá, se olhando, sem dizer nada. 

Soltei minha mão da dele. 

- Anda... - Eu disse baixinho. - A gente... Eu tenho que ir. - Saí andando e ele continuou lá parado, olhando pra mim. - Você vai ficar aí?! Eu preciso trancar o apartamento. 

- Ãhn... Não, não. Eu já tô indo. Seu "amigo" chegou né?... A gente se vê por lá. - Bruno falou, acordando do além, andou até a porta, virou pra mim com a mesma cara de cachorro molhado de antes, e disse: - Sinto sua falta.

Então saiu carregando minha mochila e boa parte da sanidade que me restava antes que me ocorresse de dizer alguma coisa. Tranquei a porta fazendo uma lista de palavrões em resmungos, afinal que porra foi essa?! 

Entrei no carro de Renato e bati a porta. 

- Impressão minha ou vocês dois ficaram tempo demais pra pegar uma mochila? - Renato perguntou em seu tom mais charmoso. 

- Tá com ciuminho? - Sorri, beijei sua bochecha. 

- Tô vendo que esse feriado vai ser interessante.