segunda-feira

Capítulo 7 - No Love, No Glory (Parte 3)

Os termos "sábado à noite" e "Rebeca sozinha em casa" não cabiam na mesma frase, era um costume, uma regra, uma quase que obrigação. Marcela e João iam ao cinema, Verônica e Breno também, Sal e Alice haviam saido para jantar alguma coisa em algum lugar cujo qual eu não tive o menor interesse em saber qual era, e Bruno, bom... Se ateve a me evitar o dia inteiro. Então lá estava eu, acolhida pelo meu querido sofá, sozinha em casa, com uma colher gigante, um pote de sorvete de cajá, luzes todas apagadas, moleton roxo, meias desiguais e vendo o dvd de "Ghost - Do outro lado da vida" pela trilhonésima vez, chorando feito a vaca sentimental que realmente sou, num sábado à noite. Que beleza.

Passos no corredor precederam os três toques dados na porta do apartamento. Respirei fundo enxugando meu rosto na manga do moleton, deixei o pote de sorvete de lado e me arrastei até a porta para abrir.

- Oi. - Bruno disse simpático, sorrindo sem graça deixando um pouco do aparelho à mostra. - Posso entrar?

- Quando foi que deixou de poder? - Falei, dando de ombros e retribuindo o sorriso. Ele foi entrando e sentou no sofá que eu estava antes. - Pelo menos assim tenho compania para a minha noite solitária.

- Não é muito comum te ver em casa e sozinha uma hora dessas. - Observou Bruno, notando o silencio incomumente predominante no apartamento. Sentei quieta, voltando a por o sorvete no colo e dando "play" no controle do dvd. - Romance melodramático outra vez? Quantas vezes você já viu esse filme?

- Parei de contar na vigésima sétima. E ainda choro toda vez que o Patrick Swayze morre. - Nós dois rimos, quietos, tentando voltar a atenção para o filme, sem sucesso obviamente. Eu baixei a cabeça.

- O que foi? - Ele perguntou com aquela voz de preocupação meiga.

- Nada... Só me desculpe por ontem, tudo bem? Por ter me importado tanto com aquela piada boba. Eu não queria brigar com você... É que as vezes eu não sei como. Eu perco o controle. Paro dessa coisa de pensar coerentemente e acabo falando só um monte de frase sem nexo que vem na minha cabeça, deixando tudo o que eu falo quase rude e sem sentido.

- Tipo agora. - Bruno afirmou sorrindo. Eu sorri, dando de ombros ainda sem olhar pra ele.

- É, tipo agora. Você vai me desculpar? - Perguntei, estirando o dedo mindinho como a gente costumava fazer as pazes quando criança. Ele segurou meu dedinho com o dele.

- Pode ser. - Respondeu e depois assanhou meu cabelo com outra mão, como sempre fazia. - Posso ficar e assistir com você?

Sem responder, botei o pote de sorvete sobre a mesinha e uma das almofadas no colo dele, ainda sem soltar meu dedinho do dele, então me deitei com a cabeça na almofada que tava com Bruno e assim assistimos o resto do filme.

-

Os créditos finais estavam quase acabando, mas mesmo assim não nos movemos do sofá, nem ligamos luz alguma. Ela não soltou minha mão, eu não soltei o dedinho dela, e assim permanecemos em silêncio por só Deus sabe quanto tempo.

- Bruno.

- Oi. - Respondi atento, passando a mão pelo cabelo dela.

- Era você mesmo quem fazia aqueles corações ao redor dos nomes? - Beca perguntou quase sussurrando.

- Era. - O reflexo da luz que vinha do lado de fora me deixava ver o rosto dela sorrindo envergonhada e com o pensamento longe e tão perto dalí. - Por que?

- Não... Por nada. Eu só queria saber. - Continuamos mais um tempo em silêncio. Algum relógio avulso esquecido em cima da mesinha de centro por sorte no caminho que a luz da rua entrava pela janela acabava de marcar onze em ponto, quando ela resolveu levantar do meu colo e voltar ao seu lugar inicial sentada no sofá.

- Beca.

- Oi. - Ela respondeu, jogando o cabelo pro lado e trazendo seu olhar pra mim com uma das sobrancelhas arqueada como fazia quando estava curiosa.

- Eu levaria alguma esculhambação ou tabefe se eu fosse aí e beijasse você agora? - Perguntei cara-de-pau, ela sorriu e falou baixinho:

- Qual a graça de agir sem correr riscos? - Eu sorri, me aproximando. Ainda sem soltar minha mão da mão dela, segurei sua nuca por baixo do longo cabelo castanho com cachos apaixonantes que tinham as pontas, e trouxe a boca dela pra minha.

quarta-feira

Capítulo 7 - No Love, No Glory (Parte 2)

Simplesmente levantei, com uma vontade infeliz de gritar com Bruno, me sentindo traída. Não me lembrava de ter feito nada para que ele deduzisse aquilo sobre aquela noite, e pior, comentar esse absurdo com Breno. Pra não sair bruscamente, falei que ele devia ter entendido errado. Andei até a porta e saí andando.

Não demorou nem um minuto e eu ouvi os passos apressados vindo atrás de mim.

- Beca!... - Lá vinha ele, correndo ofegante. Eu continuei andando, sem olhar pra trás. Ele apressou ainda mais o passo - Rebeca...

Os dedos de Bruno tocaram meu ombro, gelados como o resto da mão dele que segurou meu ombro e me virou de frente pra ele. Minha vontade era gritar até explodir o timpano dele, ou então meter-lhe a mãozada na fuça, mas eu não tinha coragem de fazer isso - quer dizer, eu tinha, mas não com Bruno. Eu apenas disse:

- Não estou em condições de falar com você, não agora.

Fui andando até o primeiro degrau da escadaria e lá me sentei, apoiando os cotovelos nos joelhos e segurando a cabeça com as mãos. Ele ficou parado, ainda olhando pra mim daquele jeito, ensaiando mentalmente a resposta de uma pergunta que eu não fiz. Verônica saíra rebocando Breno do nosso apartamento pro dele, conseguindo a proeza de deixar o ambiente ainda mais tenso. A outra porta se fechou, Bruno tomou fôlego e começou:

- Eu disse nada daquilo!

- É, seu irmão deduziu aquilo sozinho. - Levantei a sobrancelha e sorri irônica.

- Olhando assim parece que você não me conhece, Rebeca! Breno é um grande idiota que faz piadinha com qualquer coisa. Você sabe como ele é...

- Ele é idiota, não burro, Bruno. Ele não ia tirar uma coisa dessas DO NADA... Porra, que vergonha.

- Mas você não tá querendo dizer que eu que falei aquilo pra ele não, né?

- Não, não. Fui eu! - Falei levantando o dedo, sarcasticamente e me calei por um instante. - Você viu o jeito como Verônica e Alice me olharam?.. Como Sal me olhou?... - Balancei a cabeça negativamente.

Eu esperei ele esperniar por eu estar sendo incompreensiva com ele, pensei que ele iria negar outra vez, se defendendo e pedindo perdão, falando mais desculpas esfarrapadas e coisa e tal, e tal e coisa. Então quebrando toda a minha linha de raciocício sobre o rumo que essa briga viria a tomar, Bruno simplesmente dá de ombros na minha frente e sai andando. COMO ASSIM SAI ANDANDO? Regra número um: Numa briga, nunca deixe uma mulher falando sozinha, mesmo que ela não esteja falando nada. Aliás, numa briga, conversa ou qualquer outra porcaria de ocasião. É irritante, indignante, loucamente deselegante e o único desejo absoluto que se apossa da gente é o de gritar e esbofetear sua cara até que você volte sua atenção para o ponto inicial novamente.

- EI! - Eu levantei do batente e gritei. Bruno parou, olhou pra trás - Pra onde você vai?!

- E por que isso te interessaria? Se você quer ficar aí sentada sozinha amargando a imensa e irreparável vergonha que (supostamente) eu fiz você passar pelo que o meu irmão bêbado falou na frente das suas amigas (que fazem brincadeiras bem mais pesadas que essa) e do cantorzinho meia boca que ninguem nem conhece direito e mesmo assim você ainda olha pra ele como se fosse, sei lá, o ultimo prato de brigadeiro na face da terra e parece sempre estar pronta pra atacar à qualquer minuto, mas só não faz porque a Alice meteu a colherada primeiro, e está indignada com o que ele pode remotamente pensar sobre a sua indole. - Ele cuspia as palavras uma por uma, agressivo e magoado como eu só havia visto umas poucas vezes na vida. E eu, o olhava absorvendo todo aquele discurso revoltado, surpresa e com o coração na mão. - Se é assim que você quer ficar mesmo, por que se interessar com o "pra onde eu vou"?

- Claro que não tem nada disso, você tá imaginando coisa!

- Eu posso ser meio lento às vezes, Beca. Só que eu nunca tive vocação pra tapado. Ou você pensou que eu não ia perceber que ele era o cantor do barzinho que a gente foi naquele dia e você ficou completamente vidrada nele o tempo inteiro que ele estava no seu seletivo campo de visão? Ou que eu não ia reparar no seu olhar quando ele chegou agora à noite e abraçou a Alice?

- E-Eu não sei do q-que você tá falando. Isso não tem o menor fundamento, Bruno. - Gaguejei. Ele sorriu sem humor.

- Óbvio que você sabe. É lógico que você vê. Porque eu só posso ver o que tem dentro daí, de você, nos seus olhos. E ver que eu não passo de um biscoito Passatempo pra forrar seu estômago enquanto a sobremesa completa não vem... É tão evidente quanto a lembrança que eu tenho de como a gente era antes. Riscando a calçada da sua casa com corretivo, enquanto você desenhava aqueles elefantinhos e unicórnios, eu escrevia meu nome junto do seu, você olhava, e ria como quem conta uma mentira boba pra disfarçar a vergonha, porque no outro dia sempre aparecia um coração em volta dos nomes e lembro de você batendo no Breno porque a culpa era sempre dele, e você ficava tão brava que eu ficava com medo de desmentir tudo e dizer que depois que você entrava em casa pra jantar, era eu quem ia lá e botava o coração em volta.

- Eu não sei o que dizer. - Falei, voltando a me sentar, assimilando tudo aquilo. Pedaço por pedaço do discurso de Bruno.

- Aí é que tá. - Ele respondeu, como se eu tivesse descoberto toda a fonte do problema. - Você NUNCA sabe!

- O que você tá querendo dizer com isso?!

- Nada, Beca. Nada! - Ele disse voltando à sua posição inicial, de pé, braços cruzados, na minha frente, fingindo estar olhando pro nada.

- Só porque eu falo essas coisas, não quer dizer que eu não sinta. Eu não sou do tipo que sai por aí gritando todos os meus sentimentos à plenos pulmões, nem que gosta de anunciar (ou ver sendo anunciado) como, quando ou porque vou parar na cama de alguém! - Descarreguei, olhando pra ele, agoniada, com vontade de gritar, tentando deixar que as lágrimas entulhando minha vista não desabassem. - Me desculpe por não ter sempre uma coisa bonitinha pra te falar, ou quase sempre desviar dos assuntos que me deixam vulnerável. Desculpe se eu sou insensível, ou.. sei lá. Nada disso quer dizer que eu não sinta nada, mas eu acabo sentindo tanto ao mesmo tempo que não consigo nem entender, quanto mais falar...

- E sobre o cara da Alice? - Ele finalmente olhou pra mim, perguntando.

- Talvez eu não queira falar sobre isso. - Respondi grossa.

A porta do apartamento se abriu, os dois sairam lá de dentro, de mãos dadas. Mais e mais lágrimas se amontoavam à cada passo deles, e eu olhando pra cima sem deixá-las cair. Um casal apaixonado, composto pela minha melhor amiga e o cara que eu queria, lindo isso. Era uma daquelas horas que você tem que ser forte por mais fraca que esteja. De construir um castelo ao redor de mim, mesmo que fosse de cartas.

- Tchau pessoal. - Sal falou. Tentei forçar um sorriso e acenei com a mão, a veia no canto da testa de Bruno pareceu que ia explodir. Mesmo assim foi cordialmente até Sal apertou sua mão e disse qualquer coisa que eu não prestei atenção. Porque com a outra mão, Sal ainda segurava a mão de Alice e isso infelizmente dominava toda a minha atenção. E continuei a tentar parecer imparcial.

Os dois desceram a escadaria, falaram algo que não deu pra ouvir, então do nada, Sal passou a mão pela cintura dela, e simplesmente a beijou. Sem conseguir segurar, algumas das lágrimas silenciosas despencaram puxando com elas todas as outras. Bruno olhou pra mim, depois pra eles, e sussurrou pro meu lado:

- Tem certeza que não quer mesmo falar sobre isso, Rebeca?

E eu, por minha vez, respondi dando um sorriso sem humor enxugando o rosto.

- Eu estou fingindo estar bem, por favor não interrompa minha performance.

- Você merece mais que isso. - Bruno disse, depois me olhou com cara de pena, beijou minha testa e saiu balançando a cabeça ceticamente pro seu apartamento com as mãos nos bolsos. E eu continuei lá.

segunda-feira

Capítulo 7 - No Love, No Glory.

Marcela e João foram os primeiros a sair da sala, indo pro quarto que ela dividia com Verônica, já meio cambaleante, puxando o rapaz pela mão. A própria Verônica e Breno estavam muito bem se agarrando mesmo no sofá sem pouco se importar com o simples detalhe de que haviam mais algumas pessoas por lá. A agarração deles já tava num estágio que me deixava constrangida por Sal estar alí, presenciando toda a ardente situação na qual os dois se encontravam, também constrangido, como Beca e Bruno que ainda continuavam lá.

- Ô, vocês. - Beca disse, pigarreou sem sucesso, então resolveu apelar pro - EI! - Eles olharam um tanto sem fôlego, ela peguntou - Por que é que vocês não vão prum quarto, hein?

- Porque a Marcela já tomou posse do quarto. A não ser que uma de vocês duas disponibilize uma das lindas caminhas pra gente no outro! - Verônica respondeu na lata. Bruno, Breno e Sal riram, eu e Beca nos entreolhamos, ambas fazendo careta de nojo, automaticamente falamos "Claro que não!" ao mesmo tempo. - Então...

- E o quarto do Breno? Não fica a menos de dez metros, o apartamento é aqui vizinho, gente... - Eu sugeri. Beca concordou comigo, e por um milésimo de segundo, vi uma veia saltar na testa de Bruno assim que Breno sorriu safado, já meio alegrinho por causa do vinho em excesso, com sua resposta na ponta da lingua.

- É que eu divido o quarto com o meu irmãozinho... - Ele começou, Beca o interrompeu, sorrindo.

- Sim mas o que é que tem a ver? - Eu podia notar gotinhas de suor se formando na testa de Bruno, nervoso com a desculpa que o gêmeo iria dar, imaginei.

- O que tem a ver, é que, pelo que eu entendi, você e ele que iriam pra lá esta noite, Beca. - Pesou o clima. Dito e feito, Bruno engoliu no seco quando Beca trancou a cara, levantando sua sobrancelha matadora e dando como resposta à teoria de Breno um quieto, porém sonoro:

- Não. Acho que você entendeu errado, Breno. - Levantou do chão onde estava sentada, olhou para Bruno incrédula. - Com licença. - Ele saiu da frente e Beca saiu dalí calmamente em direção à porta, saindo dalí. Bruno deu um tabefe na cabeça do irmão e saiu correndo atrás dela.

- Tenso. - Sal falou, pondo o braço por trás de mim, deixando sua mão recostar no meu ombro.

- Porra Breno... - Veronica o censurou. Ele olhou pra ela e depois pra mim.

- Que foi que eu fiz? Me explica!

- Acho que não precisava ter dito isso, cara. - Sal falou.

- Acho que você tomou vinho demais e já começou a falar bosta, anda. - Verônica foi se levantando do sofá e puxando Breno, arrastando-o pra saida, resmungando. - Vamos lá pro outro apartamento. O que você tá precisando é tomar café forte e um banho bem gelado, de preferência os dois ao mesmo tempo pra ver se morre de uma trombose e para de falar merda... - Ela se voltou pra nós dois: - Tchau, gente. Boa noite, até amanhã. Adorei te conhecer viu, Sal. Apareça mais vezes. - Verônica sorriu, apontando pra mim. - Cuidado com ela, essa menina é um doce.

Senti meu rosto ficando em algum tom de vermelho, pelo sangue se espalhava por todo ele. O moreno abriu um sorriso sincero, olhou pra mim, depois pra ela outra vez.

- Quanto a isso não precisa se preocupar. Acho que ela está em boas mãos. - Verônica assentiu, Breno deu um tchauzinho serelepe e fecharam a porta, deixando eu e Sal sozinhos na sala.

- Isso vai dar confusão. - Eu disse, preocupada com o que Breno havia dito sobre Beca e Bruno.

- Imagino... - Sal falou. - Seus amigos são muito legais. Acho que eu nunca tive isso...

- Agora você não precisa mais ser tão sozinho. - Eu disse, levantando pra pegar as garrafinhas de Ice pelo chão, e sorri.

- Talvez seja melhor dizer que eu não possa... - Sal me corrigiu com a voz rouca que tanto me encantava tão baixo que mal deu pra ouvir, levantando do sofá, pegando os pratos usados que estavam sobre a mesa e levando-os para a pia por trás do balcão. Eu sorri e olhei pra ele.

- Eu tenho medo de acreditar que todas essas coisas que você me fala sejam realmente verdade e eu acabar quebrando a cara depois, sabe...

- Eu não seria idiota o bastante pra falar tudo isso pra você e estar mentindo, qual seria o propósito? Com que cara eu ia olhar pra você depois? Eu não sou esse tipo de cara, minha linda.

- É que eu meio que andei ouvindo umas histórias sobre seus relacionamentos anteriores e... - Ele me interrompeu.

- Eu nunca fui um homem de "relacionamentos anteriores".

- Quer dizer que você simplesmente fica com todas ao mesmo tempo, é isso? As que ligam pro seu celular sempre que a gente tá junto perguntando quando e onde vocês podem se encontrar outra vez, porque a ultima vez havia sido maravilhosa e bla bla bla... Como é isso, Sal?

Sal revirou os olhos, soltando a última leva de pratos à pia.

- Elas não são importantes, elas não são você.

- E por que causa, motivo razão ou circunstância eu tenho que acreditar que não vou acabar como uma delas depois que ficar com você?

- Porque você tem a autoconfiança de uma criança de seis anos num primeiro dia de aula mesmo tendo cacife pra concorrer ao miss universo. Você é interessante, e sabe conversar, e quando eu chego perto de você tem alguma coisa dentro de mim que dispara um alarme qualquer e me faz parar de prestar atenção em qualquer outra que não seja você, e me assusta não saber controlar isso.

Eu baixei a vista, sorrindo burra com a declaração, sem conseguir sustentar o olhar dele, de pé na minha frente.

- Então eu assusto você? - Foi o que eu consegui dizer.

- Nada abaixo disso é suficiente pra descrever você pra mim. Não é algo com o qual eu consiga lutar. Nem que eu queira me opor.

- Vou torcer pra que isso seja verdade. Porque se não for...

Ficamos em silêncio por alguns segundos, e certos barulhos vindos do quarto de Marcela nos deixou, digamos, envergonhados.

- Acho que é melhor eu ir, está meio tarde. - Eu sorri. - Me deixa até lá embaixo?

- É claro.

Saímos de mãos dadas pela porta branca do apartamento, deixando na sala, sozinhos, os gemidos desconfortantes, para que tivessem alguma privacidade.

Rebeca e Bruno discutiam muito efusivamente, ela sentada no alto da escadaria, de cara amarrada, braços cruzados e ele de pé, em frente a ela. Pararam a discussão subitamente quando perceberam eu e Sal nos aproximando.

- Tchau, pessoal. - Sal falou, educado, quando passávamos por ele. Beca tentou forçar um sorriso animado dando tchauzinho com a mão de onde estava, sem falar nada. Bruno foi até Sal e apertou sua mão:

- Tchau, cara. - Pareceu tão simpatico e convincente quanto um ator de novela mexicana, e falou o que me pareceu ser sinceramente - Apareça mais vezes.

A expressão no rosto de Beca era fria e longe. Olhando pro nada o tempo que Bruno passou falando com Sal. Até que nós dois descemos o resto da escadaria:

- Obrigada por vir. - Eu disse, segurando sua mão. Ele sorriu.

- Não. Obrigada por querer que eu viesse.

- Não tem porque agradecer, eu sempre quero você por perto.

- O quão perto você me quer?

- Tô começando a achar que o tempo inteiro. - Respondi, sorrindo com ele. Por um segundo que eu perdi, Sal passara o braço ao redor da minha cintura. E no segundo seguinte, me roubara um beijo.

O chão sob meus pés desapareceu. Meu coração parecia ter trocado de lugar com meu estômago, acelerado, disparando borboletas por todos os outros órgãos do meu corpo. Ao contrário de seu nome, o beijo de Sal era doce. Um gosto que eu nunca havia sentido antes. Uma ameaça protetora, que precisava de uma fortaleza indefesa pra se compor totalmente. Cálido e simples... Era como se a minha boca e a dele tivessem um encaixe perfeito, uma na outra como devia estar previsto em algum lugar, elas deveriam se encontrar. Suas mãos segurando minha cintura, me abraçando, me segurando para que meus joelhos fraquejantes conseguissem se sustentar de pé. A sensação era inenarrável, nem todos os dicionários do mundo, ou frases de calendários, ou pesquisas do google seriam capazes de definir o que eu estava sentindo. Acreditar no amor não era mais tão difícil depois de provar o gosto que tinha.

- Boa noite, minha linda. - Ele sussurrou na minha orelha, segurando meu rosto que não conseguia parar de sorrir olhando pra ele. Beijou minha bochecha. - Tchau.

E saiu me deixando voltar pra dentro do apartamento e ir pro meu quarto com todas as respostas e dúvidas sem pergunta que me surgiram como um vulcão em erupção, mas não precisavam de explicação alguma.

terça-feira

Capítulo 6 - Janta é coisa de pobre (Parte 3)

- Bom.. - Interrompendo minha melancolia silenciosa, Breno falou quando já estávamos todos confortáveis e acomodados entre dois sofás, uma cadeira e o chão obviamente, que era onde eu estava com Bruno. - Agora que já chegou todo mundo, vamos à pergunta que não quer calar: Cadê essa janta, Marcela?!

Marcela levantou a sobrancelha esquerda. Eu, Alice e Verônica reviramos os olhos.

- Duzentos aninhos de amizade e você ainda não aprendeu nadinha sobre o temperamento Classe Alta que nunca nessa vida desprega dessa criatura, lindinho? - Verônica sussurrou docemente na orelha de Breno, apontando pra Marcela e fazendo a gente morrer de rir.

- Breninho querido. - Ela começou - Não fala "janta". É um jantar! A palavra "janta" é horrorosa. E, bom, "Janta"é..

- Coisa de pobre! - Dissemos Verônica, Alice e eu. E todo mundo caiu na gargalhada.

- Eu perdi as contas de quantas vezes ela fez seu "discurso sobre o jantar" pra Beca. - Alice falou ainda rindo, enquanto segurava a mão de Sal.

- E eu fiz questão de não ouvi-lo nenhuma vez. - Eu disse, fazendo graça.

João riu. Marcela fez uma falsa cara de indignação pra mim, apertando o olhar e tentando um bico (que era a especialidade de Bruno) mas sem conseguir parar de rir.

- Bela imagem que vocês vão fazer de mim na primeira vez que o João vem aqui. Valeu aí hein.

- Ah Marcela, deixa pra gente começar a mentir depois né? - Bruno disse, e eu tomei uns dois goles da garrafinha de Ice dele.

- Né? Sem a gente como é que ele ia ficar sabendo coisas vergonhosas sobre você, tipo ter uma coleção de cds do KLB escondidos numa caixa de sapatos debaixo da sua cama? - Eu disse, ela foi ficando vermelha e todo mundo ainda morrendo de rir. Breno continuou:

- Ou o fato de ter ido pra diretoria na quarta série (eu acho) por ter colado um chiclete no cabelo enorme de uma menina mó gata que fazia o quinto ano porque ela disse que você não sabia dançar ballet! Eu me lembro.. - Eu comecei a rir incontrolavelmente.

- Que malvada, Marcela. - João observou. - E a menina? Teve que cortar o cabelo, né?

- Três dias depois, eu e.. acho que era o Bruno, a gente viu a pobre chegando na escola com a maior cara de desgosto e o cabelo tão curtinho que era quase na orelha...

- Dessa eu não sabia, coitada da menina, Marcela! -Verônica falou levantando, assim como Sal, Alice e Bruno, para trazer a comida pra onde a gente tava.

- Ah, mas dessa aí eu me lembro! - Marcela se manifestou revoltada. - Eu admito que fui pra diretoria por isso, só que quem jogou o chiclete na cabeça dela não fui eu não. Não é, dona Rebeca?

- Ah gente, o que é que eu podia fazer? A menina era mó biscate, tinha ofendido minha amiguinha, eu precisava me vingar, pô... - Todos me olharam com uma cara ironicamente assustada. - Fora que nunca desconfiariam de uma garotinha da segunda série meiga e inocente como eu, logicamente.

- "Inocente"? - Alice, Marcela e Verônica disseram.

- Me lembre de morrer seu amigo, Beca, por favor! - João disse, mesmo sendo sarcastico ele conseguia ser completamente doce.

- Idem! - Falaram todos, enquanto serviam seus pratos e eu claro, fiz questão de uma careta boba para todos eles.

- Mas, mudando de assunto... - Sal começou a falar, e, mesmo com a boca cheia de strogonoff com batata frita, a voz dele conseguia ser, no minimo, estupenda. - Isso aqui tá... MUITO gostoso. - Todos concordamos.

- Obrigada, obrigada por alimentarem o ego dos meus magníficos dotes culinários...

- Isso tá realmente muito gostoso, menina. - João falou, dando um beijo carinhoso na bochecha de Marcela, sentada ao seu lado. - Tem algum segredo na receita?

- Bom... Segredo, segredo não tem. - Ela respondeu - Mas não liguem se, por acaso, vocês encontrarem por aí, pelo meio das batatas, o pedaço decepado da mão da Beca... - Verônica fez uma careta, seguida por Breno e Alice. Eu, Marcela e Bruno rimos um pouco além da conta. João e Sal não entenderam muito bem a piada, até eu levantar minha (até esta manhã) linda mãozinha, que agora estava remendada de um lado a outro.

Contamos toda a história da minha mão decepada, com direito a imitações fabulosas do desmaio épico de Verônica feito por Marcela, e do arrombamento da porta do banheiro, por Alice. Comemos toda a comida que havia na casa. Falamos um monte de besteira, de coisa séria, sobre filmes ruins, sobre bandas boas, sobre política e sobre o vício eterno de Verônica por novelas. Quando acabaram todas as "Ices" partimos para o vinho que João havia trago, e o negócio começou a esquentar.

domingo

Capítulo 6 - Janta é coisa de pobre (Parte 2)

João chegou enquanto ainda estávamos nos arrumando às pressas, todas super atrasadas, ele super pontual. Um doce.

- Boa noite. - Ele falou todo bom moço quando Alice abriu a porta.

- Boa! Entra aí. - Ela falou sorrindo depois voltou pro quarto terminar de se arrumar. João foi entrando sala adentro com seus jeans, sua camisa nerd bonita e seus passos tímidos. Arrumou os óculos e ficou de pé, perto da bancada, segurando uma sacola com uma garrafa dentro.

- Ér.. - Ele começou a falar, envergonhado.

- Marcela tá terminando de se arrumar. - Eu disse, passando o strogonoff muito cheiroso da panela pra travessa usando somente a mão não-esfaqueada, tentando não derramar tudo e acabar com o jantar. - Pode sentar aí em qualquer canto.

- Aquela era a Alice. - Ele supôs, eu sorri e fiz que sim com a cabeça. - Você deve ser a Rebeca.

- Eu mesma. - Eu disse, pondo a travessa sobre a bancada. João olhou pra mim e levantou a sacola.

- E isso aqui, onde eu ponho?

- Ah, me dá aí que eu boto na geladeira. - Peguei a sacola e tirei a garrafa. - Hum, vinho... - Tão nerd educado e bom moço, como eu disse, um doce.

Abro a geladeira e tento arranjar espaço para a educada garrafa de vinho em meio a todas aquelas convidativas garrafinhas de Ice que constavam em nosso estoque pessoal.

- Oi menina... - Ele disse, encantador.

- Oi João. - Marcela falou toda meiga como quase nunca se via. Indiferença, era o que normalmente a definia, mas de alguns tempos (e rapazes) para cá, ela estava ficando mais disposta a prender-se, o que tende a ser bem difícil, uma vez que sua lógica inegável acabava por abstrair qualquer probabilidade de paixões arrebatadoras, romances adocicados ou declarações de amor gritantes. Era bonitinho ver minha amiga tentar.

João sorriu dando um beijo em seu rosto, Marcela sorriu meio envergonhada de eu estar observando a cena fazendo aquela cara de "aaaaaaaaaaaaaawn *~*" estirando-me o dedo médio assim que o bofe desviou o olhar.

Bruno entrou pouco depois, todo lindo numa camiseta que deixava seus ombros mais lindos que o normal, todo fofo no beijo que me deu na mão enfaixada todo cheio de cuidado perguntando se eu já tinha tomado o remédio, todo se querendo quando disse que estava se controlando pra não me agarrar alí na frente de todo mundo e eu me fiz de discreta apenas sorrindo e dando um beijinho na orelha dele antes de dizer que a melhor parte deveria ficar só pra gente, não precisava divulgar. Fez um bico, sorriu deixando o aparelho aparecer, então fomos nos sentar junto com Marcela, João, Breno e Verônica (sendo que os dois últimos estavam numa vibe "Amor I loveYou" que empreguinava todo o resto do ambiente) enquanto Alice ia buscar a câmera lá dentro.

Alguém bateu à porta e dessa vez, eu abri. Mas, porém, contudo, no entanto, todavia, entretanto poderia arranjar mais umas duzentas orações coordenadas sindéticas adversativas como desculpas para não tê-lo feito se soubesse quem estaria atrás dela.

Lá estava ele. Um sorriso torto na cara, o cabelo castanho escuro, quase preto e arrepiado, uma camisa vermelha por cima daquele festival de músculos abençoados por um tom moreno que ai meu Deus do céu o que é que eu estou fazendo..

- Olá... Rebeca, né? - Rouca, grave e perfeita a voz dele invadindo meus tímpanos, desmontando as sílabas do meu nome. Tentei congelar meu rosto de um jeito indiferente, até porque se eu não o fizesse seria perceptível para meio mundo o quanto eu era apenas um pequeno planetinha irrelevante, admirado e girando ao redor do sol que Sal era.

- Arram, oi. - Eu disse. - Er.. Entra.

- Licença... Boa noite. - Sal falou, antes de começar a sorrir feito bobo, como eu queria fazer quando olhava pra ele. Ele sorriu pateta ao ver Alice vindo no corredor. - Boa noite, minha linda.

Minha linda. Imagine um objeto de vidro, não, vidro não. Imagine um objeto de cristal, frágil, delicado e nenhum pouco resistente à abalos. Pronto, um desses acabava de implodir em algum canto entre minha garganta e meu estômago. Alice o olhou, acorrentando a retina de Sal à dela e expulsando qualquer incerteza que eu tinha de que eu havia feito a escolha certa, deu mais dois passos e o abraçou, cheirando o canto do pescoço dele. O que os dois tinham era fim de tarde a semana inteira, não só sábado à noite. Era "I Will Always Love you", não "Crush Crush Crush". Era imóvel, não passageiro. Era "Titanic", não "O Diário da Princesa". Era pra sempre, não pra viagem. Era amor, não só paixão.

quinta-feira

Capítulo 6 - Janta é coisa de pobre (Parte 1)

No fim das contas, ou melhor, no início do fim de semana era esta a situação: Eu tinha alguma coisa com Bruno, coisa que idéia do que é eu não faço, mas tenho. Verônica desde terça não dormia em casa, dando asas à toda a sua criatividade sexual com Breno, que por ser de parede colada com o meu lado do quarto eu era obrigada a ouvir todas aquelas loucuras que vinham do quarto dele no apê ao lado. Alice tá que não desgruda o Sal da boca, fala nele e com ele o dia todo, a tarde toda, a noite toda, eles almoçam juntos todo dia e o melhor, ela me chama pra sentar com eles, resumindo minha amiga resolve me torturar psicológicamente de um modo inconsciente à cada minuto do meu dia. Mas eu sei - Eu não posso dizer nada, nem reclamar de nada - escolhi isso sozinha, então nada de me imaginar arremessando bigornas na testa dela, ok. Eu tinha Bruno, afinal. Bem, Marcela resolveu convidar a todos estes (e seu namorado, João, que agora é namorado mesmo) para jantar esta noite de sexta-feira em nossa humilde residência. E nenhuma frase além de "Vai dar merda" sai da minha cabeça neste momento.

Eram seis da tarde. Nós, na verdade, Marcela fazia o jantar enquanto eu só cortava as coisas que ela mandava. Primeiro tomates, depois umas frutas que só gente rica compra porque fica bonito pra enfeitar, depois as batatas e depois:

- Beca, não faz assim, você vai acabar cortando a.. - minha mão. E começou a espirrar sangue pra tudo que é lado.

- *utaquepariucaralhoporraessecaceteinfeliztádoendo!!! TÁ DOENDO! AH! MARCELA ACODE AQUI! - Balbuciei insanamente, pressionando a mão que esguichava tanto sangue que eu me senti numa poça de catchup, Marcela veio correndo com um pano pra estancar o vermelhô banhando a bancada.

- Anda menina, num deve ser porra nenhuma pra fazer um escandalo desse tamanho, dá cá essa mão pra eu ver, deixa de drama Rebeca. - Ela disse enquanto vinha sem ter visto o corte, quando viu, começou - COMO É QUE UMA CRIATURA É BOCÓ A PONTO DE FAZER UM CORTE DESTE TAMANHO NA PRÓPRIA MÃO, ME DIGA!? - Nisso Alice grita de dentro do banheiro.

- O QUE FOI ISSO?! - E Verônica chega correndo.

- Gente, o que é que vocês gritam tan.. tan.. - Ela foi ficando branca enquanto o pano que marcela havia me dado ficava ainda mais vermelho - Isso.. é sangue?

- É!!! - Gritamos as duas, desesperadas. E eis que a lesada desaba no chão. - VERÔNICA!

- QUE BARULHO FOI ESSE?! AAAAAAAAAAAAAH! SOCORRO! - A outra grita transtornada lá de dentro, e Marcela tentava estancar o sangue e não queimar o jantar, obtendo sucesso somente no segundo item.

- Caaaaaacete. Isso tá doendo!!! ALICEEE!!! CADÊ VOCÊ!? - Eu gritei, já naquela base do desespero.

- TÔ PRESA NO BANHEIRO, A FECHADURA EMPERROU! TA TIPO TRANCADA POR FORA, E EU ESQUECI DE TRAZER A TOAAAALHA!

E em unissono, todas nós - quer dizer, todas que não estavam desacordadas começamos a berrar loucamente:

- SOCORRO! SOOOOOOOOOOOOCOOOOOOOORROOOO!!!

Me vem abrindo a porta desesperados Breno e Bruno (estando o primeiro vestindo apenas uma toalha amarrada na cintura), e se deparam com aquela cena bocó!

- QUE PORRA É ESSA?! - Gritaram os dois juntos. Eu e Marcela, automaticamente olhamos uma pra outra e começamos a rir loucamente, e minha mão continuava a sangrar.

Breno tentou levantar Verônica e Bruno olhava assustado pra minha mão sangrando enquanto Alice chutava a porta incessantemente e Marcela mexia nas panelas um pouco rápido demais explicando todo o acontecido.

- A coisa burra número um se trancou no banheiro sem levar a toalha e não consegue sair, a número dois quase decepa a mão aqui e precisa de um hospital levar pontos nesse caralho desse corte senão vai morrer por falta de sangue que ela já não tinha muito, e a tapada número três caiu feito uma manga podre quando viu o sangue!

- Eu levo a Beca pro hospital. Breno, acorda a Verônica e depois arromba a porta da Alice, e Marcela, o jantar ainda tá de pé? - Bruno disse.

- Claro que tá! - Ela confirmou, ainda rindo, sem tirar a atenção das panelas. Eu pensei que tava desmaiando pelo tanto de sangue que eu perdi, então fechei os olhos pra esperar o baque só que ele não chegou, e quando eu abri os olhos estava nos braços de Bruno, já descendo a escadaria à caminho do carro do avô dele, eu acho. Ele me pôs no banco do carona, e saiu cantando pneu, eu tava meio tonta mas ainda consegui falar:

- Vou sujar o carro.

- Não liga. Fica quieta.

- Mas não vão brigar com você se eu sujar tudo de sangue?

- Não vão. Fica quieta... - Ele olhou pra minha mão ainda meio assustado. - Isso não para de sangrar nunca?!

Chegando num hospital de rico que nunca na vida eu poderia pagar, ele me colocou nos braços outra vez e me carregou até o plantão onde costuraram minha mão de um lado a outro, além de uma injeção e uma porrada de remédio anti-inflamatório pra levar pra casa, suficientes pra eu me dopar por duas semanas. Passamos hora e meia por lá, com a mão enfaixada, dessa vez voltei andando pro carro, com Bruno segurando a outra mão.

- Posso perguntar uma coisa? - Eu perguntei, levantando a sobrancelha.

- Outra? - Eu dei um murrinho no ombro dele com a outra mão. - Pode, pode sim.

- Eu cortei a mão, não o pé. Por que você ficou me carregando nos braços o tempo todo? - Ele bagunçou o cabelo e sorriu fazendo bico, envergonhado.

- Sei lá. Achei romantico. - Eu baixei a sobrancelha sorrindo e olhando pra ele. - Quero só ver o que vai ser desse jantar...