sábado

Capítulo 3 - Encontro (Parte 4)

Entrei no quarto com os saltos nas mãos, na ponta dos pés porque Alice já devia estar absorvida num sono invejável para mim - posto que dois terços do meu peso eram só a consciência. Um passinho, dois passinhos, um tropecinho e lá vou eu me estabacando no chão como uma manga madura, obviamente não privando o resto do mundo do som da queda.

- Beca, é você? - Murmurou a criatura coberta por um edredom e com um travesseiro sobre a cabeça deixando somente seu meigo narizinho pinóquio de fora da caverna aconchegantérrima dela.

- Não, só meu eu-lírico. - Falei levantando, com uma dor na coluna digna de uma rameira. - Porra, essa doeu. - Alice riu, saindo de baixo do travesseiro.

- Caindo assim pelas tabelas... Pelo visto o encontro foi bom, hein?

- Nem me fale em "encontro", Lice. Nem me fale! - Eu disse, fazendo aspas com os dedos, chutando os saltos pra um canto qualquer, a bolsa pr'outro canto qualquer, e depois me jogando no meu canto qualquer favorito daquele quarto: Minha cama.

- Mas vocês não saíram juntos, e coisa e tal, e tal e coisa. - Ela perguntou confusa. - Eu pensei que era um... Encontro.

- Bom, se você achar que um "encontro" é sair com seu amigo de infancia, baladas e festas, pra ouvir música ao vivo, num barzinho, depois dar uma volta numa praça perto de lá...

- Sim, isso é um encontro, e pare de por aspas no ar, isso me irrita! Mas o que aconteceu de tão tão péssimo pra você se revoltar tanto assim?!

- Tava tudo legal entre a gente, tipo a gente sai toda semana e sempre é legal, às vezes vai todo mundo mas muitas vezes fomos só nós dois e nunca aconteceu esse tipo de coisa.

- Que tipo de coisa? - Alice perguntou, curiosa.

- Espere eu terminar de contar, menina. - Reclamei debochada, nós rimos. - Bom, a gente chegou aqui na entrada, e como ainda tava cedo, ficamos conversando e tal, supernormal. De repente surgiu o assunto do primeiro beijo e tal, daí meio que rolou uma espécie de clima nesse assunto porque, né?

- "Porque, né" o quê, sua louca? - Porra.

- Eu e o Bruno ficamos, no aniversário de 15 anos da Marcela, se você não lembra. Mas que amiga sem futuro, lembra nem do meu primeiro peguete, melhor amiga ainda, eu só arranjo essas amigas sem futuro sabe? - E de repente eu levei uma travesseirada nada delicada no meio da cara.

- Deixa de drama, você esqueceu que eu tava dormindo antes de você me acordar em função de ser bocó e andar se danando no chão por aí e que eu não sou lá tão auto-suficiente em termos de raciocínio quando acordada assim? - Eu joguei o travesseiro de volta nela.

- Tá, drama duplo. Sim, mas voltando: rolou meio que uma espécie de clima e ele tentou ficar comigo. Então eu dei um fora no pobre e saí.

- Sim, e daí?

- "E daí" que eu e ele é, sei lá, muito estranho.

- Tá, Rebeca. Eu vou dormir.

- Também te amo, Alice. Boa noite. - Ela fez "legal" com a mão e em dez minutos enquanto eu trocava de roupa pondo o meu lindo shortinho de algodão e uma blusa roxa com a qual eu costumava dormir, Alice já estava com os olhos fechados outra vez. - Tá acordada? - Ela gemeu um "aham" quase inaudível, sem mover um músculo - Cê acha que eu fiz errado em ter dado um fora no Bruno?

- Não, se você não queria, não tinha porquê. - Ela falou com a voz abafada pelo sono, no meio de um bocejo.

Se passaram uns vinte minutos de silêncio enquanto eu olhava pro teto, pensando - Não em Bruno, mas no Sal e sua voz perfeita, e seus ombros perfeitos, e sua postura perfeita.

- Lice, eu acho que eu to gostando de um carinha... Ele faz música, no mesmo prédio que a gente. Ele é lindo e a voz dele é perfeita, mas ele nunca, me viu, sabe?.. Alice? - Eu chamei, ela se levantou num susto:

- An? O que foi? - Acordando, esfregou os olhos. - Falou alguma coisa? - Eu sorri.

- Não, nada. Só quis ver se você tava acordada... Pode voltar a dormir.

Alice se enrolou em sua caverninha outra vez, e adormeceu em questão de centésimos de segundos.

segunda-feira

Capítulo 3 - Encontro (Parte 3)

O show acabou depois de 15 músicas, uma pizza pequena e uma Fanta laranja de 500ml, ele desceu do palco e eu o perdi de vista. Olhei Bruno, que parecia muito longe dalí, olhando sabe lá Deus pra onde.

- Ei. - Falei, dando um leve toque no braço dele. - Ainda está por aqui?

Bruno voltou de onde estava perdido, bagunçou o cabelo e sorriu.

- Eu estou sim, e você, já voltou? - Eu o olhei confusa, ele riu. - Deixa pra lá.

Pagamos a conta e saímos do simpático lugar.

- O que quer fazer agora? - Bruno perguntou pra mim, eu dei de ombros.

- Quer dar uma volta? - Falei. E ele riu, pausa que eu não entendi a piada. - Que foi?

- Nada não, só um dejá vu, eu acho. - Eu levantei a sobrancelha.

- Tinha alguma coisa na sua bebida? - Nós dois rimos andando até o carro.

- Não... A não ser que você tenha colocado pra abusar sexualmente de mim depois que eu estivesse dopado. - Eu ri e dei um murrinho carinhoso no braço dele, fazendo careta.

- Claro que não pus nada na sua bebida. Até porquê, se eu fosse abusar sexualmente de você, creio que iria querer você bem acordado, né não? - Nós dois rimos, e entramos no carro.

- Então. Pra onde vamos? - Ele perguntou ao ligar o carro.

- Pra onde você quer ir? - Respondi, Bruno deu de ombros, tirando o carro da vaga.

- Sempre quis ver a tal fonte que tem numa pracinha que fizeram no fim dessa rua. - Eu sorri concordando.

Demos um passeio adorável, andamos pela praça, vimos a fonte iluminada e voltamos como bons amigos. Era pouco mais de meia-noite de uma madrugada convidativa, então resolvemos nos sentar nos batentes da escada e conversar mais um pouco.

- Eu gostei do lugar. - Falei, sentada, tirando meus abaladores saltos e massageando meus pés.

- Também acho. Devíamos ir lá mais vezes... - Bruno deixou a frase se perder, olhando pro nada.

- Cinquenta centavos pra saber o que diabos você tanto pensa calado assim.

Ele soriu, voltando os olhos pra mim. Coçou a nuca como sempre fazia quando estava com vergonha e disse:

- Não sei porquê, me veio uma certa festa de quinze anos na cabeça, sabe? - Nós dois caímos na gargalhada.

- Gente do céu... Quantos anos faz isso hein? - Ele sentou do meu lado e bagunçou o cabelo ainda rindo.

- Uns cinco, eu acho... Ainda me lembro, você com um vestido rosa, não era? - Eu fiz que sim com a cabeça, mordendo o lábio inferior e sorrindo olhando pro nada assim como ele.

- E você com uma camisa social branca, todo engomadinho e o povo te confundindo com um garçom!

- Mas eu era o garçom mais garboso da festa! - Bruno falou, se achando.

- Você tava se achando um negão porque tinha tirado o bigodinho de moto-táxi, lembra? HAHAHAHA - Gargalhamos mais um pouco.

- Lembro, e eu tava muito gato. Tão gato que você me beijou. - Bruno sorriu levemente safado, levantando a sobrancelha enquanto eu amarrava meu cabelo num rabo de cavalo. Eu fiz uma careta sem parar de sorrir.

- Eu não beijei você! - Relutei. - Você quem...

- Nem vem que não tem. Você quem veio com umas perguntas estranhas pra cima de mim, tentando me seduzir. - Disse Bruno, sem parar de rir, dois dedos revoltado. Eu pisquei e sorri falando:

- E consegui, não foi? - Ele sorriu pra mim, depois ficou com o rosto ruborizado, olhando pro chão.

- Eu gostava de você. - Falou Bruno, como se estivesse só pensando em voz alta.

- E eu de você. - Eu disse. Já tinham tantos anos de intervalo, que não havia problema. Até porque ele tinha admitido também.

Ambos sorrimos, tudo virou silêncio, e houve uma pausa enquanto absorvíamos aquelas confissões relembradas que aparentemente não deviam carregar nenhuma espécie de valor sentimental, mas assim como tantas coisas no mundo, não eram como deviam ser.

Eu levantei do batente segurando meus sapatos, e ia dizer adeus antes que eu pudesse me envolver demais na conversa. Mas quando eu tentei subir um degrau, Bruno segurou minha mão.

- Engraçado que... - Ele começou a dizer. - Eu passei tanto tempo tentando descobrir por que nunca se repetiu... - E levantou de onde estava, chegando mais perto de mim.

- Acho que é meio tarde pra achar repostas para uma pergunta que nunca foi feita, Bruno. - Ele segurou minha mão um pouco mais forte e se aproximou a ponto de ficar menos de meio polegar entre o meu nariz e o dele. Eu me afastei, soltando da mão dele. - Me desculpe, Bruno. Mas eu te avisei que isso não era...

- Um encontro... - Ele completou, sorrindo desanimado. - Foi mal. Tenha uma boa noite.

- Pra você também. Durma bem. - Eu subi a escada e entrei no apartamento, ainda prendendo a respiração.

terça-feira

Capítulo 3 - Encontro (Parte 2)

OBS: Bruno narrando.

Os olhos dela pregaram no cara com o violão. Não era um olhar normal, era quase que devoção. A atenção dela estava tão colada nele que parecia Super Bonder, um olhar permanente, intocável. O máximo que eu conseguiria dela seria um mísero Cola de Isopor, mais pra brincar do que pra qualquer outra coisa. Sempre passageira, nunca minha de verdade.

Quando nós tinhamos 13 anos, morávamos na mesma rua, estudávamos na mesma escola, tínhamos atividades recreativas no mesmo centro comunitário, tinhamos os mesmos amigos, o mesmo gosto bizarro como o de bolacha recheada de chocolate com Fanta laranja, a mesma idade... Aniversário de 15 anos de Marcela, uma puta festa, eu me lembro. O clube lotado de pessoas descoladas e nós, eu, Beca, Alice, Breno totalmente deslocados - ela é mais velha que a gente, sendo assim, praticamente todos os convidados eram mais velhos que a gente. A tia de Alice veio buscá-la, Breno se enturmou com um pessoal, e eu e Beca lá feito lesados.

- Quer dar uma volta? - Falei pra ela, sentada do meu lado, que deu de ombros, sorriu displicente, levantando:

- Por que não? Melhor que ficar aqui. - E saímos andando sem rumo pelo jardim do clube onde era a festa. Acabamos voltando e sentando na grama, mais perto da entrada, mais longe dos casais efusivos na parte mal-iluminada do jardim.

- Bruno. - Ela me chamou, olhando pras estrelas.

- Oi. - Respondi, sem nem imaginar que, do nada, viria a pergunta mais apaixonante que uma garota já me fez na vida.

- Cê já beijou?

- Que tipo de pergunta é essa, Rebeca? - Perguntei, deitado na grama, olhando pro céu.

- Ah, uma pergunta simples, cê já beijou ou não?

- Não - Respondi não muito entusiasmado - E você?

- Também não... - A frase se perdeu no vento, e eu quase morri de curiosidade pra saber o que diabos aquela criatura tão perversamente linda estava matutando naquela caixa de Pandora que era sua mente maligna enquanto tocava Lifehouse na festa lá dentro.

- Mas por que a pergunta? - Ela deu de ombros.

- Sei lá... Só tava pensando no quanto deve ser estranho isso, nossa. - E fez uma cara de nojinho. - Língua... Eca.

- Mas deve ser bom. - Eu disse, pensando alto - Se não fosse, por que as pessoas continuariam a fazer isso?

Houve uma pausa enquanto nós dois tirávamos nossas próprias conclusões sobre o assunto, até que:

- Você... - Dissemos os dois ao mesmo tempo.

- Diz você. - Falei.

- Não, você fala primeiro. - Ela disse.

- Eu só tava pensando se nós...

- Deveríamos tentar?! - Beca me interrompeu. Mas era justamente isso que eu iria dizer. Então concordei.

Nos sentamos na grama, um de frente pro outro, meu coração quase saltou fora de tanto que pulava enquanto íamos com os olhos fechados, uma boca em direção à outra, duas bocas que logicamente se desencontraram. Nós dois rimos tanto que caímos deitados outra vez na grama. E rimos mais um pouco, até que tudo ficou quieto.

- Você... - Dissemos os dois ao mesmo tempo. Outra vez.

- Diz você. - Ela disse.

- Não, você primeiro. - Eu falei.

- Acho que a gente...

- Devia tentar de novo? - Eu sugeri. Dessa vez tratei de fechar os olhos só quando minha boca e a dela já estavam juntas. Estranho, desajeitado, mas era bom, muito muito bom. E desde esse dia, não teve um sequer em que eu não ouvisse aquela música sem me lembrar dela.

Capítulo 3 - Encontro (Parte 1)

Eu contei os passos ao apartamento ao lado, combinei com Bruno que assim que eu tivesse pronta iria até lá chamá-lo e finalmente iríamos ao lugar que eu escolhi. Um berro da campainha e três toques na porta eram mais que suficientes, ele abriu a porta e eu me senti mal-vestida.

- Tá mó gato, hein rapaz?! - Falei dando um murrinho sem força no braço dele.

- Você está linda, Beca. - Ele disse num meio sorriso, assanhando o cabelo e olhando pra mim. Parecia uma cena em câmera lenta, onde você consegue notar cada detalhe. Metodicamente, Bruno pegou as chaves sobre a mesa, o celular, apagou as luzes e trancou a porta. - Então, onde vamos?!

- Ouvi falar de um carinha que vai cantar num barzinho de uma rua perto daqui. Tava nos meus planos irmos lá conferir. Que horas são? - Ele olhou o relógio caro que carregava no pulso e falou:

- Nove e meia. Em ponto. Não tem alguém pensando em mim, Hahaha.

- Lá só começa umas dez. - Eu disse, dando de ombros enquanto desciamos as escadas. - A gente pode ir indo pra pegar um lugar legal. Acho que dá pra irmos andando...

- Eu pedi o carro pro meu vô. - Ele falou, mostrando as chaves. - Não vou te deixar andar a pé por aí linda desse jeito. - Era uma cantada? Claro que não era, só pra começar não era um encontro, não tinha porquê ele me cantar!

- Ah Bruno, você sabe que eu nunca tive besteira com essas coisas! - Ele sorriu outro meio-sorriso, abrindo o carro de rico do avô dele que era podre de tão rico, ligou o som do carro e passava Lifehouse. - Eu adoro essa música.

- Qual é mesmo o endereço do tal barzinho? - Procurei o endereço na minha memória dos dois carinhas debatendo no ônibus, e respondi prontamente.

- Rua dos Anjos, número 16.

- Algum motivo especial pra ter escolhido esse lugar? - Bruno perguntou, com um flash de esperança de origem (para mim) duvidosa no olhar, enquanto dobrava uma esquina simpática.

- Só as boas indicações de música. - Eu falei, levantando a sobrancelha, olhando pro nada e ouvindo a voz de Sal por um milésimo de segundo durante a pausa estratégica da música que passava no rádio.

Desci do carro, e passei pela entrada do pub com Bruno ao meu lado, olhando pra cada um de todos os lados à procura de Sal, mesmo sabendo que eu não precisava procurá-lo, uma hora ou outra ele ia ter de aparecer. O lugar era confortável, mas ao olhar as pessoas ao nosso redor, tive a leve impressão de passar a impressão errada de um "encontro" outra vez. Eu contei oito casais nas oito mesas mais próximas a nós.

Ele pôs a mão esquerda sobre a mesa, fazendo menção de segurar a minha, então eu rapidamente puxei minha mão de volta.

- Bruno, olha... - Tentei dizer, mas ele entendeu antes que eu falasse.

- Eu sei. Não é um encontro. - Bruno falou no seu meio sorriso, olhando pra mim. Bagunçou o cabelo e olhou ao redor. - Não que eu não quisesse que fosse, porque você é a mulher mais linda nesse lugar e eu sei que você sabe disso, até porque todas as pessoas nesse lugar olharam pelo menos duas vezes pra cá depois que você entrou. - Eu sorri, mordendo o canto da boca.

- Se você não notou, eu não entrei sozinha. E para lhe ser franca, - Olhei ao redor - por enquanto, pelo menos, você é o cara mais lindo e bem vestido aqui.

- Concordo plenamente, Srtª Albuquerque. Então por que negarmos tanta beleza ao resto do ambiente flertando somente entre nós num 'encontro'?! Compartilhemos isto com o resto do mundo! - Ele disse, eu ri.

- Não poderia concordar tão mais com você. Fazemos um par tão lindo que chega a ser egoísmo! - Bruno riu e eu segurei a mão dele por dois segundos, até que Sal subiu no palco.

- Boa noite. - Eu derreti. - Bem-vindos à Taberna, meu nome é Sal, vou tocar um pouco pra vocês esta noite, e eu espero que gostem das músicas tanto quanto eu vou gostar de levá-las a vocês.

O moreno de braços perfeitos pegou o violão com o carinho que se deveria abraçar uma mulher. Passou o dedo pelas cordas como se acalentasse um rosto. Respirou fundo, aproximou-se do microfone à sua frente, e soltou a voz de um anjo - chamando pra ele toda a atenção de qualquer um que não estivesse olhando, posto que ele conseguia concentrar todo o universo no coração que a voz dele cantava tão divinamente bem. Se aquelas palavras fossem dedicadas a uma mulher, ela não seria uma mulher, ela seria A mulher. Conseguiria convencer qualquer uma de que pronomes pessoais obliquos nunca se refeririam à ela.

Eu estava tão abestalhadamente lesada olhando, ouvindo, apaixonada por aquela música, tão absorvida em todo aquele audiovisual, tão abstraída de qualquer mundo lá fora, distante, lá longe.

Capítulo 2 - Condinome de bandido

O dia raiou na minha janela sem cortina e Alice dormia, babando no teclado do computador. Eu ri, pateta, sozinha. Levantei da minha caminha confortabilíssima - minha vez de fazer o café-da-manhã. Um shortinho de algodão minúsculo e uma camisa bem maior que eu e laranja, me serviam de pijama nesta agradável manhã de sexta-feira. Por que meu bom humor? Hoje eu tinha aula. Por que isso é motivo para estar de bom humor? Porque eu o veria outra vez, e isso é mais que um motivo, é uma razão pra, no mínimo, dar "bom dia" a alguém mesmo acordando às seis da manhã.

Fui pra cozinha, liguei o rádio. Passava um desses Exaltasambas da vida em alto e bom som, e eu tinha, como ótima pagodeira embutida que sempre fui, as letras na ponta da língua.

- Eu bem que te falei, por favor, não brinque comigo. Te avisei! Eu sei que minha vida, sem você não faz sentido, mas parei!.. ?- Muito bem empolgada, enquanto fritava os ovos. - BOM DIA AMIGA! - Verônica chegou esfregando os olhos e morrendo de rir. - Que foi?

- Certo que é sexta-feira, mas cachaça uma hora dessas, Beca? - Eu ri.

- A pessoa não pode nem ser feliz enquanto faz o café-da-manhã?! - Eu continuei cantando. Verônica continuou rindo e abriu a porta do apartamento pra deixar o lixo lá fora.

Eis que entra correndo depois de Verônica, aquela criatura sem camisa, todo suado, só com um calçãozinho de corrida, um fone na orelha e um sorriso safado na cara.

- Bom dia flores do dia. - Bruno falou, tirando os fones.

- Tá vendo aí, dona Verônica?! Bom humor de manhã é uma coisa super normal! Bom dia, Bruno! - Eu disse. - Quer tomar café? Eu que fiz.

- Uma mulher absurdamente linda com um shortinho tão curto como o seu me pedindo pra provar do café dela? Mas é claro que eu quero. - Ele falou galante vindo pra pertinho de mim e me dando um beijinho no rosto.

- Tá, senta aí. - Fui no armário e peguei um prato pra ele.

- Beca, o que vai fazer essa noite? - Perguntou Bruno, ainda sem tirar o sorriso safado do rosto.

- Provavelmente nada de interessante. - Disse meio desanimada, mas sem deixar de sorrir - Por que a pergunta?

- Eu só tava pensando se uma hora dessas a gente podia sair...

- Pode ser. - Falei pondo café na xícara dele. - Depois da aula a gente combina pra onde vai, certo?

- Como queira, Beca. - E sorriu. Depois que Bruno acabou e saiu, Marcela, Alice e Verônica resolveram vir comer, já eu aproveitei a primeira vaga pro banheiro.

Eu andava cada passo contando os segundos só pra olhar pra ele de novo. Me equilibrando na quina das calçadas, serelepe e sorrindo pro nada feito uma bocó. E pensando: Só olhar, olhar não mata.

- Terra para Beca? - Disse Verônica enquanto eu perambulava retardadíssima pelo caminho.

- Oi. - Respondi sem parar de sorrir.

- Essa leseira toda é só por causa do encontro com o Bruno hoje? - Ela perguntou enquanto amarrava o cabelo num rabo-de-cavalo.

- Encontro? Ah, a gente só vai sair, nada demais! - Falei dando de ombros, entrando no campus da universidade com os olhos e ouvidos bem atentos e à procura dele.

- No meu país, isso é um encontro. - Insistiu Verônica. - Garanto que no dele também é.

- Se for, coitado... - E perdi a voz. Lá estava. Ele.

Todo lindo bagunçando o cabelo sentado da escadaria com um violão nas costas. Das duas uma, ou ele faz Música ou é uma baita de um vagabundo - como diria a tia de Alice. Só que pra mim não importava o que ele fosse... Mas o que é que eu tô falando?!

- Droga. - Pensei em voz alta, sem tirar meus olhos dele e sem que meu coração deixasse de acelerar. Droga, droga, droga. E passei pra minha sala, ainda olhando pra ele, que não notou.

- Beca. - Verônica me chamou enquanto eu anotava o trabalho que a professora de história da moda passava. - Vai fazer o quê depois daqui?

- Vou atrás do Bruno pra saber onde a gente vai essa noite, dar minha aula na escola central, depois casa. Por que?

- Por nada... - Ela disse. - É que... Vou passar o fim de semana na casa dos meus pais e...

- Tá, eu faço esse trabalho pra você. - Ela agarrou meu pescoço.

- Beca Bequinha do meu coração, você é minha amiga mais linda desse mundo, sabia?

- Claro que sabia. Agora me solta porque, desculpa, eu sou hétero. E você fica me devendo essa!

- Amo você quando tá de bom humor. Me lembre de agradecer ao carinha que canta! - Eu levantei a sobrancelha. - O quê? Jura que esse bom humor todo não é por causa daquela beleza máscula e talento excepcionais? Por que se não é o Bruno, tenho certeza que é por causa dele!

- Tá. É. Pronto. Falei. Tá feliz?! - Me revoltei cuspindo uma palavra de cada vez, nervosa.

- Mentira! - A retardada sussurrava se manifestando - Eu pensei que ia morrer sem ver isso!

- O quê, criatura?! - Perguntei já sem paciencia.

- Pensei que eu ia morrer sem ver você apaixonada. - Revirei os olhos, terminei de escrever, então acabou a aula.

- Tchau. - Eu disse, sem ânimo.

Na saída, eu o vi outra vez, saindo de uma determinada sala conversando com dois outros caras. Será que ele é gay e não olha pra mim por isso? Não... Ele é másculo, musculo e muito suficiente pra essas coisas assim. Ele gosta de mulher, ele não gosta é de mim!

Resolvi me encaminhar até a parada de ônibus. Eis que eu pego o ônibus e os dois caras que conversavam com... Ele, estavam sentados lá também, nos lugares à minha frente. E é ÓBVIO que eu tava ouvindo a conversa deles.

- Tu vai no Sal hoje? - Falou o mais loirinho que carregava baquetas ritmando-as no banco da frente. - Ele vai tocar na Taberna, o bar do tio daquela menina da nossa sala.

- Hoje? Mas ele não tinha dito que parecia que ia ser amanhã? - Duvidou o mais baixo de boné vermelho.

- O cara falou agora quando a gente tava saido da sala, pediu pra gente ir. Fora que o filho da mãe canta e toca muito, muito, mesmo! - Estavam falando dele.

- Acho que eu vou. Não é certeza, não vou tanto com a cara dele não, tem mania de boa praça, mas a musica dele vale a pena se ouvir. Fora que quem tem um nome desses? "Sal". Nome de gente que não presta, tipo aqueles apelidos de gangue, condinome de bandido, sei lá...

- Você anda assistindo Tropa de Elite demais, isso sim. - O loirinho disse, batendo a baqueta na cabeça do amigo e levantando pra pedir parada. - Se resolver ir, é na rua dos anjos, número 16, lá pelas 10 da noite. Na rua daquela praça que tem a fonte dos namorados, só que lá no final. E é um cara legal, só é mulherengo e ficou com a tua ex. Esse é o teu problema com ele. - O loirinho das baquetas deu uma gargalhada da cara emburrada do anão de boné vermelho, saindo do ônibus. Até eu ri.

Agora eu já tinha quatro coisas: Um, ele não é gay. Dois, ele é mulherengo. Três, Sal, que nome estranho. Quatro, já tinha onde ir com Bruno hoje a noite. Pedi parada pro motorista e desci daquele ônibus tão feliz, mas tão feliz, que seria capaz de dar um triplo mortal carpado e cravado alí na rua mesmo. Mas eu não o fiz, só entrei na escola comunitária e perguntei pro Seu Zé (O porteiro sem os dentes da frente mais gato do mundo) se o Bruno já tinha chegado.

Capítulo 1 - A voz (parte 2)

E enquanto ela cozinhava depois do banho, eu fiquei deitada no sofá com os pés pra cima muito concentrada na minha leitura altamente construtiva.

- Ei, tá perto aí? - Perguntei pra Marcela que mexia algo muito cheiroso numa panela, toda trabalhada no baby doll e na toalha amarrando seu cabelo recém-lavado, mas mesmo assim arranjou espaço pra me mostrar seu dedo médio. - HAHAHAHA, ja posso ir botando a mesa?

- Pode sim, tô acabando já. - Dei um pulo serelepe do sofá, joguei o Harry Potter em cima da mesinha porta-tralha da sala e corri na esperança de tirar da miséria meu estômago, que se remexia tanto a ponto de eu não conseguir discernir entre borboletas em função da lembrança da voz do carinha ou se roncava de fome mesmo.

- Anda, gente. - Chamei. Verônica veio, fez seu prato e voltou pro quarto onde assistia a novela das oito, muito entretida.

- Não vai comer aqui, Alice? - Perguntei quando ela fez menção de voltar pro computador.

- Tenho um trabalho enorme pra terminar de audiovisual. Vou passar a noite inteira nisso. - Ela falou desanimada, e voltou pra lá com o prato.

Fiz meu prato e assim como Marcela me sentei no sofá da sala para devorar a deliciosa panqueca que chamava meu nome.

- E aí? Alguma novidade? - Perguntei entre uma garfada e outra.

- Eu preciso de um homem. Mas isso não é novidade mesmo, então nenhuma. - Respondeu Marcela, nós rimos. - Tô me cansando disso de ser livre em tempo integral...

- Namorado pra quê? Um cardápio inteiro pelo mundo a ser degustado e você querendo se limitar a um "de sempre"?!

- Beca, Beca, Beca... Eu não tenho tantos pratos a degustar quanto você, minha variedade é minima, quase nula. Nenhuma criatura decente me aparece! Paixões arrebatadoras nunca foram meu forte, eu queria um cara com um "eu te amo" embutido, pra viagem, com um olhar meigo e que soubesse como falar com uma mulher, como tratá-la. Não esse monte de brutamontes. - Eu revirei os olhos. - Beca, é porque você ainda é novinha, por isso você acha isso uma besteira.

- Novinha... Eu só sou o quê? Um ano e meio, dois, mais nova que você. Isso não faz de mim uma criança, Marcela. Eu sei bem o que pode acontecer caso hajam laços afetivos que não se pode controlar, não é isso que eu quero pra mim.

- Não é o que você quer, ainda. Eu vi o jeito que você ficou quando viu aquele cara hoje de manhã, o moreno cantando no corredor da escadaria. Você gostou dele.

- Mas não é isso que estamos discutindo no momento. O fato é que...

- Que você pretende fugir toda vez que sentir algo maior por alguém?

- Não é isso... Eu só não estou pronta pra algo dessa magnetude. Eu nunca tive muitos bons exemplos de paixões que deram certo, claro que eu acredito que exista esse tipo de coisa, mas não acho que seja minha hora de entregar o que quer que seja meu pra um cara. - Marcela ficou boquiaberta. - Que foi?

- Você nunca..?

- Nunca. - Marcela meio que riu sem acreditar. - Que foi?

- Tá, desculpa por rir, mas isso sim é novidade pra mim! É que você sempre se mostrou tão cabeça feita, tão adiantada, que eu pensei...

- Pensou errado. Assim como todo mundo pensa sobre mim. Me julgam desse jeito só porque eu não sou uma mosca morta. Eu falo com os caras que eu quero sem o menor problema, fico sem compromisso. Por acaso isso é ser devassa o suficiente pra acharem que eu dou pra Deus e o mundo?!...

- Também não é assim, Beca.

- Você sabe que é. - Falei, rindo sem humor e soltando o garfo. - Até você que é uma das melhores amigas que eu ja tive na vida pensa isso de mim, pode não ser exatamente desse jeito, mas pensou. Eu não sou o tipo de mulher que fica sonhando à espera do principe encantado que vai me namorar e me levar embora no cavalo branco. Eu me basto por enquanto, não vou dar pro primeiro que me disser eu te amo, mas também não tô pretendendo amar o que chegar primeiro. Não to esperando pelo cara certo, tô esperando por ter coragem o bastante pra fazer.. isso. Só.

- Eu queria ter essa convicção que você tem sobre si mesma. Às vezes eu não queria ser tão livre e quando me entrego às pessoas, elas não valem nenhum pouco à pena... Desculpa por pensar errado sobre você. Você é uma mocinha de bom coração, Rebeca, eu admiro isso. - Eu sorri.

- Obrigada. - E terminei a última garfada da minha panqueca. Então fui lavar a louça.

Capítulo 1 - A voz (parte 1)

Eu precisei voltar uns dez passos no corredor barulhento pra escutar outra vez. Era uma música lenta, agradável, magnífica. Mas não era pela junção dos acordes, das notas, Não era pela batida, ritmo. Não era por nada disso. Era a voz. Rouca, grave e apaixonante. Marcela e Verônica falavam e eu nem prestei dois dedos de atenção, eu só queria ouvir e ouvir.

Parei estática olhando pelo vidro da porta da sala de mídia, absorvida pelo som que me levara pra um lugar tão mais longe dalí. A voz vinha dele, tão misturado na música quanto eu estava em ouví-la. Com os olhos fechados, ele cantava com um sorriso no rosto que me fazia querer sorrir com ele, pra ele. O ritmo que ele mantinha batendo a mão no joelho, me fazia acompanhar com um balançar de cabeça, mas as batidas do meu coração ainda eram aceleradas. Sua boca me cantava a letra tão bem, e eu seguia a melodia junto a ele, que estava com uma camisa azul e branca encantadora como seus ombros pareciam também ser por baixo do tecido. E minhas mãos tremiam, suadas por um nervosismo em Fá sustenido menor. A música parou, mas eu ainda continuei lá. Parada. Sem voz. Sem ar. Pelo visto sem cérebro também.

- Oi. - Disse ele quando passou por nós no corredor fechando a porta. Eu daria minha olhadela mais paquerante, meu olhar mais penetrante, falaria "oi" e sairia rebolante super sexy. Mas o ar congelou em volta de mim e eu fiquei lá, inerte, bocó, olhando pra ele indo embora. De costas (e que costas) ele conseguia ser tão apaixonante quanto de frente, o jeito como ele andava, sua nuca y otras cositas más.

- REBECA. - Gritaram Marcela e Verônica, então eu as notei e voltei a lembrar que eu devia respirar.

- Deixem de grito, minha gente! - Marcela revirou os olhos, Verônica falou revoltada:

- Sim, se a gente não tivesse gritado, você ainda ia estar aí parada olhando vesga pra bunda daquele... Deus. O que foi isso, criatura?!

- Claro que eu não tava olhando pra bunda dele! - Resmunguei, voltando a andar. As duas me acompanharam.

- A não, a bunda dele foi só depois que ele disse "Oi" e você ficou muda, engasgndo com toda a baba dentro da sua boca por certo. Você tá bem?! - Marcela perguntara, olhando minhas mãos ainda trêmulas.

- Beca, você tá tremendo! - Verônica observou, dando de garra na minha mão. - Tremendo, suando e congelada. Quem é você e o que fez com a minha amiga?!

- Ai deixem de besteira vocês duas! - Falei, Verônira soltou minha mão que vivia um momento protestante e revoltada. - Vocês sabem quem ele é?

- Nunca vi, mas gato. Muito gato. - Verônica disse, olhando-o subir a escadaria da universidade (assim como eu e Marcela). - Mas tá bom Beca, a gente tem uma bela aula de Desenho e a professora já não vai com a sua cara, ou seja.. Tchau Marcela!

- A professora de Desenho não vai com a minha cara porque eu desenho melhor que ela! Rá.

- Encontro com vocês mais tarde! - Marcela disse e seguiu o mesmo caminho que ele, subindo a escadaria. Ele... Meu estômago nomeou-se avatar de Mortal Kombat, virando e revirando somente por lembrar da voz e da música.

Nota mental: Quero vê-lo outra vez. Preciso.


A aula durou a eternidade do intervalo de tempo da hora que eu o vi subindo aquilas escadas até quando Deus atendeu minhas preces e a vaca da professora ficou com uma dor de cabeça infeliz, mas tão infeliz que terminou a aula mais cedo. Rá.

Peguei minha bolsa, caderno e fui andando com Verônica pro corredor das salas de Marcela e Alice, pra podermos ir todas juntas pra casa.

Nós quatro morávamos na República de Belas Artes, um prédio cheio de apartamentos pros universitarios do campus perto da escola central de artes e recreação. Eu e Verônica cursávamos Moda, Alice fazia Cinema, Marcela fazia teatro assim como os gêmeos que moravam vizinho a gente, Breno e Bruno. E todos éramos voluntários na escola central, que era dos avós dos gêmeos, que são podres de ricos.

- Ei. - Alice falou enquanto procurava alguma coisa no estojo muito entretida. - Fila pro banheiro já tem? Tô morta de calor!

- Eu vou primeiro! Preciso urgentemente de um banho. - Marcela disse, manifestada se abanando toda suada. - A aula de expressão vocal foi ótima, mas deu um cansaço infeliz!

- Nem foi só em você. Haha - Bruno disse rindo e passando a mão no cabelo, bagunçando-o. Era bonito, mas não tanto quanto Ele. O porte de seus ombros era perfeito, mas não tinha os músculos dELE, nem a voz por causa do aparelho. Mas era fofo. Bruno saiu andando na frente, tirando a camisa. Aiai..

- Beca. - Verônica me beliscou, rindo. Breno e Bruno entraram no apartamento vizinho. - Pelo menos disfarce o olhar!

- A gente tem que observar as coisas boas dessa vida né não, amiga? - Marcela e ela reviraram os olhos, rindo. Alice achou a chave e rodou-a na fechadura da porta.

- Eu vou depois da Alice! - Verônica marcou seu lugar na fila pro banheiro, pondo umas sacolas na bancada da cozinha e abrindo a geladeira. - Hoje é a vez de quem fazer o jantar, hein?

- Marcela! - Gritamos eu, deitada no sofá, e Alice que estava ligando o computador no nosso quarto. Marcela se revoltou pondo a cabeça pra fora da porta do banheiro:

- Nada disso. Eu ja fiz o jantar antes de ontem e fui na rua hoje de manhã pagar todas as contas do apartamento! Hoje era dia da Beca!

- Um: Eu arrumei a casa, lavei o banheiro e a louça hoje de manhã. Dois: Você tem certeza de que quer comer um jantar feito pela minha pessoa? Eu particularmente não quero.

- Nem eu. - Observou Alice.

- Faz sentido.. Eu também não quero. - Verônica disse. - Eu arrumei a casa com a Beca hoje, a Alice fez o jantar e lavou a louça de ontem.

- Só sobrou você, Marcela! - Alice gritou lá de dentro.

- Anda, bicha! Toma banho e faz esse jantar que eu lavo a louça pra você! - Prometi. Ela mostrou a lingua, concordou e bateu a porta do banheiro.

- Nam! Tudo eu. Tudo eu. - Ela ficou resmungando sozinha dentro do banheiro. Pra variar. Marcela era a riquinha mimada mais prendada e simples que eu já conheci na vida.

(continua)

Só pra constar,

"Olhar não mata. Não mata minha vontade de abraçar seus ombros perfeitos, não mata minha vontade de sentir o gosto da boca dele, ou de ouvir sua voz sussurrada na minha orelha, não mata minha vontade de não ser mais só, pra ter ele do meu lado, nem de ter ele pra mim. Não mata nada nem ninguém, mas pelo menos eu posso olhar. Ninguém te disse. Nem vai dizer. E você nunca percebeu..."



Espero que você goste de ler tanto quanto eu gostei de escrever.