quinta-feira

Capítulo 13 - Galpão

- Vocês pegaram os convites, né? - Perguntei por garantia antes de sair de casa, amarrando o cabelo num rabo de cavalo.

- Já tá tudo aqui, Beca. - Alice falou, balançando os envelopes pretos da porta do quarto.

- Não se preocupa que uma hora a gente vai aparecer por lá. - Disse Verônica, enquanto procurava sua toalha pela casa.

Marcela estava incomumente quieta, sentada numa das cadeiras altas do balcão e zapeando pelos canais da tv como se não houvesse amanhã. Eu cheguei pertinho dela.

- Ei. - Ela olhou pra mim. - O que foi?

- Não foi nada, Beca. - Marcela disse, abrindo um sorriso carinhoso, fastando meu cabelo pra trás da orelha. - Não se preocupa comigo não.

- Minta comigo, não pra mim. - Eu segurei a mão dela. - Nunca te vi desse jeito.

- Anda. Senão você vai acabar se atrasando. - Ela falou, pulando da cadeira e me empurrando até a porta. - A gente conversa outra hora, tá bom?

Fiz que sim com a cabeça, abri minha bolsa e tirei o convite que eu não tinha tido coragem pra entregar.

- O meu já tá alí com a Alic...

- Ele não tem falado comigo. - Eu interrompi. - Desde aquele dia... Eu não tiro a razão dele. Só achei que a raiva não duraria tanto tempo. Então eu pensei que se fosse você a entregar o convite... Ele poderia ir. Você faz isso por mim?

- Claro que eu faço, Beca. Mas eu não vou dar garantia nenhuma que ele vá até porque já tá em cima da hora.

- Não custa nada tentar. - Suspirei desanimada, segurando a maçaneta da porta. - Ainda bem que eu não quebro garrafas com a mesma facilidade que eu tenho pra quebrar o coração dele. - Marcela riu e me deu um beijo na bochecha. - E você, fica bem, tá? Quando eu chegar vou querer saber dessa historia aí. - E gritei - Tchau!

- Tchau! - Gritaram Alice de dentro do quarto e Verônica de dentro do banheiro.

- Boa sorte, Beca. Até mais tarde.

~

Alguém bateu à porta.

- Sou eu. Marcela.

- Anda, tá aberta. - Falei sem tirar os olhos da tv.

- Tenho convites, quer sair comigo? - Ela disse, entrando com um par de envelopes à mostra. Eu fiz uma careta quando reconheci a letra.

- Melhor eu não ir. - Fastei do lugar pra que ela sentasse ao meu lado.

- Vai ficar sem falar com ela pelo resto da vida, é isso?

- Não põe as coisas desse jeito. Você deveria entender o meu lado também.

- Isso é um pedido de desculpas. - Marcela disse, balançando o convite na minha cara. - Bruno, você conhece a Beca. Em certos sentidos até bem melhor que eu! Ela não faz essas coisas por mal.

- Ela faz tudo pelo bem, dela. Mas ainda pelo bem... Não me olha assim. Você sabe que eu não tô mentindo.

- Bom, daqui a pouco eu me arrumo e vou. - Ela levantou. - Seu convite ta aqui em cima. - Pôs o convite no balcão da cozinha e foi andando pra porta. - Tá mesmo nos seus planos, isso de punir a Beca pra sempre?

- Eu não sei do que você tá falando. - Marcela murmurou alguma coisa como "beleza" e saiu.

Levantei e andei até o convite. Eu olhei pra letra dela, o envelope roxo olhou pra mim. Falei um palavrão sozinho. Eu vou nessa bosta. Mas eu não vou sozinho.

Peguei meu celular, olhei a agenda. Olhei de novo. Pensei um tempo e disquei.

- Oi linda. Tá livre agora à noite?... Tenho um lugar pra nós dois.

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