segunda-feira

Capítulo 11 - Tricô Das Mina

Um eu muito desorientado acordou com o sol surgindo na janela e vindo direto na minha cara, uma Beca adormecida com os braços ao meu redor, e um toc toc insistente na porta.

Me livrando dos braços de Beca com o maior cuidado pra não acordá-la, cambaleei ainda sem muita noção das horas até a porta do apartamento e abri me deparando com uma Alice apressada, irritada, sem lá olhar pra quem estava além da porta e com certeza falando muito mais rápido que o normal.

- Bruno, ó, se a Beca aparecer por aqui entrega isso pra ela. - Ela disse, me jogando nas mãos um molho de chaves com chaveiro de borboleta que eu bem conhecia enquanto mexia num monte de papéis da pasta que carregava. - A droga do meu celular não despertou, eu não dormi porra nenhuma, ela não chegou em casa até agora, aliás nenhuma das três chegou, eu tenho (ou tinha) dois trabalhos pra entregar na primeira aul... - Até que bom, finalmente viu que era Beca no sofá e por um segundo eu quis um emoticon da cara que ela fez quando notou que Beca não vestia muita coisa além da minha camisa e começou a gaguejar. - Ér... A-a-até depois. Entrega isso pra ela, tá? Tchau.

E sumiu de vista correndo e gritando quando viu o ônibus passando em frente ao portão da escadaria. Eu ri sozinho, fechando a porta sem - assim como Alice - acreditar lá muito no que havia acontecido ontem à noite. Então eu fui fazer um café pra nós dois, numa tentativa frustrada de parar de ficar olhando pra ela adormecida e linda tão quieta no meu sofá.

Uma bandeija velha que eu achei quase que na alma do armário sobre a pia, as minhas melhores torradas queimadas do mundo, guardanapos, as duas últimas caixinhas de Toddynho da geladeira e uma flor que eu roubei do jardim da vizinhança quando fui comprar pão.

Fiquei com preguiça e um estômago revoltoso de esperá-la acordar, liguei a tv, peguei uma das torradas quase carbonizadas e na falta do que mais ver, deixei em algum programa desses de culinária que costuma passar de manhã.

~

Me espreguicei e esfreguei os olhos por uma eternidade antes de abrí-los e por um acaso notar que eu não estava na minha adorável cama, nem no meu adorável quarto, nem tampouco no adorável apartamento onde ambos ficavam.

Sentei desorientada no sofá e me deparei com o rapaz de cabelos pretos, ombros bonitos e sorriso torto me apontando uma bandeija de café da manhã com uma rosa vermelha num copo de requeijão. Eu cobri o rosto com as mãos.

- A gente não devia fazer isso.

- O quê? Tomar café? - Perguntou Bruno, ainda com aquele sorriso na boca.

- Talvez seja melhor eu ir agora. - Falei, levantando ainda com aquela camisa que só tinha o cheiro dele. Catei minhas chaves e roupas que estavam juntas sobre o balcão.

- Espera Beca, você não vai nem comer a torrad... - Saí antes de mudar de ideia. Saí sem olhar outra vez pra ele, pros ombros, ou pro sorriso dele. Era melhor assim. Era melhor pra nós dois.


Hora do almoço e eu encontro uma Alice com uma cara de quem viu pessoalmente a Baleia de Graciliano Ramos morrer, sentada numa mesa reclusa com Verônica - mais loira que o normal, e Marcela se acabando num sanduíche maior que eu e falando sobre como tinha conseguido achar o caminho da casa de João no breu da noite anterior.

- Boa tarde, sua linda. - Marcela disse, puxando a cadeira vaga entre ela e Alice, mas sem sequer cogitar a possibilidade de soltar o bendito sanduíche.

- Boa... - Respondi, sentando no lugar que me fora apontado, enquanto Raul (o garçom garboso) anotava meu pedido de sempre.

- Que bom que cê chegou, nós duas estamos tentando descobrir o que diabo aconteceu com o terceiro elemento que tanto pensa na morte da bezerra olhando pro nada desde que chegamos aqui. - Falou Verônica, apontando pra Alice entre as garfadas de salada.

- Nossas apostas estão entre "ter descoberto que o tal Sal não tinha lá esse tempero todo no escuro" e "moreno, alto, bonito e sensual que afanou toda sua alegria numa noite louca de amor nas garras da escuridão", obviamente a segunda aposta é minha.

- Ai Marcela, coitada. Deixa a menina falar. - Eu disse dando um tapa no ombro dela - Que foi que aconteceu ontem, Alice?

Ela deu de ombros e continuou jogando a comida prum lado e pro outro antes de sorrir pra mim com um olhar todo malicioso que normalmene era meu.

- Minha noite não deve ter sido tão boa quanto a sua, não é dona Beca?

- O encontro com o Bruno! - Marcela lembrou.

- Opa, peraí que eu acho que eu tô por fora dessa. Que foi que aconteceu, Rebeca? - Falou Verônica e levando minhas mãos ao rosto me afoguei no poço vermelho de vergonha que era a minha cara neste momento.

- AH MEU DEUS. - A burra da Marcela, manifestada a ponto de soltar o sanduíche. - É sério que é o que eu tô pensando?!

Ainda com as mãos no rosto, fiz que sim com a cabeça antes de tacar, voluntariamente, a testa na mesa.

- MENTIRA! - Ao mesmo tempo, Verônica e Marcela.

- Bom que eu fui deixar as chaves com o Bruno de manhã, porque pensei, sei lá o que eu pensei, quando eu olho, tá a Beca, dormindo no sofá com a camisa dele.

- Mas e aí, Beca, como foi?! - Verônica perguntou, enquanto Raul (o garçom garboso) me vinha deixar o sanduíche natureba de segunda-feira.

- Ai gente, eu não vou falar sobre isso. - Falei abocanhando o sanduíche - Não aqui pelo menos.

- Okay, beleza. Noite das garotas hoje então?! - Propôs Marcela. - Sem rapazes, pra gente poder botar os babados em dia. Eu faço o jantar.

- Por mim tá ótimo. - Alice respondeu, seguida por Verônica e eu idem.

- Pelo menos assim a Alice pode nos contar por que diabos essa cara de enterro está em sua poker face. - Falei, dando outra dentada naquela coisa maravilhosa de frango e cenoura.

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