quarta-feira

Capítulo 12 - A linda dele

Foram horas tentando assimilar nomes de drinks e sacodindo copos tentando conversar e parecer bonita ao mesmo tempo. Meus futuros colegas de trabalho pareciam muito com todas aquelas pessoas bonitas que se vê nas revistas, os rapazes - fossem seguranças, garçons, barmans ou gogo-boys - eram daquele tipo que devia fazer chover mulher, e as mulheres - fossem o que quer que fossem, bem... eram re-al-men-te lindas, e eu definitivamente não sabia o que estava fazendo lá.

- Rebeca. - Uma voz grave me chamou, enquanto eu tentava decorar a ordem das cores das garrafas embaixo do meu ponto no bar, depois de anunciado o intervalo dos workshops.

- Pois não? - Respondi, levantando rápido e (pra variar) taquei a cabeça no balcão. - AI. Ai. Desculpa. Ai. Oi chefe. - Alguém pode por favor me arrumar um buraco pra enfiar minha cabeça. Com gelo, por favor.

- Cuidado aí, menina. - Ele falou, me ajudando a sair enquanto eu esfregava minha testa. - Hahahaha.

- Tudo bem, seu Roriz. Ótimo que agora eu sou a piada do chefe. - Ele continuou rindo.

- Seu Roriz é? - Eu fiz que sim com a cabeça.

- Ou prefere só chefe mesmo? - Discordando de mim, ele sorriu e pegou um saquinho no bar, encheu de gelo e botou na minha cabeça.

- Seu Roriz é o meu pai. Pode me chamar só de Renato mesmo.

- Beleza. - E apontei pro saquinho, sorrindo. - Obrigada, Renato.

- Os instrutores falaram bem de você.

- Te disse que eu aprendia rápido. - Renato concordou, então de repente eu estava fazendo alguma coisa certa.

- Tudo bem, vou parar de te prender pra você ir aproveitar seu intervalo. - Ele apontou pra perto da mesa de aperitivos - Seu namorado não pára de olhar pra cá.

Era Sal, acenando quando eu olhei. Eu levantei a sobrancelha e tirei o saquinho de gelo da cabeça.

- Ele não é meu namorado. - Falei. Renato sorriu, deu meia-volta e disse antes de ir andando até sua sala:

- Que azar, o dele.

Não deu dois minutos e Sal veio andando até onde eu estava, me ofereceu um pratinho cheio dos negócios da mesa e sentou do meu lado, sem dar uma palavra.

- Nossa, eu nem sabia que ainda existiam Tortuguitas. - Eu disse enquanto devorava a cabeça e as pernas de uma das que ele me havia botado no pratinho.

Sal concordou com a cabeça, abocanhando uma delas, toda de uma vez, olhando pro nada, sem dar uma palavra. Eu amarrei meu cabelo e soprei a franja dos olhos.

- Você quando tá com a Alice passa o tempo inteiro assim calado ou eu sou tão desinteressante assim pra ficar ignorando até minhas m...

- É que eu quero falar com você. - Ele me interrompeu. - Só não sei como começar, nem sobre o quê, mas eu adoraria falar com você, Rebeca.

Um pequeno sorriso irônico se abriu na minha boca enquanto eu jogava alguns cinco pastéizinhos nela.

- Eu sou uma pessoa. - Mastiguei duas ou três vezes e enoli. - Não um bicho. - Sal riu.

- Do jeito que você come, parece mesmo um bicho. - Eu ri e dei um murro carinhoso no braço musculoso e escultural tão lindo quanto o sorriso dele.

- Mas e aí? Como está indo seu treinamento?

- Tá bacana o negócio. Não quebrei nenhum copo, não derrubei nenhuma bandeja... A moça da instrução olhou tanto pra minha bunda que eu acho que vou ficar na sala VIP. - Nós dois rimos por um tempo até ele ficar sério outra vez. - Não fala da moça da instrução pra Alice não, tá?

- Tudo bem, eu entendo... Sem querer eu ouvi vocês dois conversando hoje depois do almoço.

- Era sobre ela que você queria falar quando me mandou aquela mensagem, né? - Eu confirmei com a cabeça. - Depois de domingo eu fiquei sem a menor ideia do que fazer, ou de como agir. Alice é diferente de todas as mulheres com quem eu já estive. Diferente demais.

- Garotão, vou te contar um segredo: Todas as mulheres são diferentes umas das outras. A diferença é que Alice te é mais especial do que todas as outras porque você gosta dela e é de verdade dessa vez. Então, por favor, não seja burro ou infantil de perdê-la só por medo de ser tão importante pra ela quanto ela quer que você seja. Seja calmo, paciente, doce, carinhoso e, principalmente, tenha cuidado com a minha amiga. Se você a ama de verdade, não vai magoá-la. Porque se você magoar a Alice, aí sim você vai ter problemas.

- Você tem razão.

- Acostume-se. - Falei, levantando a sobrancelha. - Eu sempre tenho.

Ele riu e levantou quando anunciaram o fim do intervalo, falando:

- Bruno devia tomar cuidado. - Eu sorri confusa. - O chefe parece estar adorando isso de dar em cima de você.

- Deixa de falar besteira e vai pra lá carregar copo, eu vou ficar aqui aprendendo a embebedar as pessoas. - Nós dois rimos. Sal me segurou pela mão, para que eu me levantasse e meu braço inteiro se arrepiou num segundo. Corri pra tirar minha mão da dele antes que ele pudesse notar. - Anda, antes que eu perca meu emprego e você o seu, a moça tá chamando.

- Obrigado, Beca. De verdade. - Eu ri muito, voltando pra trás do meu ponto no bar.

- Não gasta todos os agradecimentos de uma vez só não que eu tô prevendo muito tempo pra frente ajudando nesse namoro de vocês dois.

- Beleza... Eu volto pra república com você quando acabar aqui, tudo bem? - Fiz que sim com a cabeça, acenando um vá embora com a mão.

- A gente se vê na saída então, garotão. - Ele deu meia-volta e foi andando até o seu próprio setor, e eu toda bocó olhando o desenho dos ombros dele sob aquela camisa bonita. E bem que a instrutora tava certa, com os atributos que tem esta criatura de Deus, devia ser crime ele andar por aí sem nenhum aviso prévio. Suspirei me deixando roer de carência, decorando o desenho das costas de Sal por um segundo ou dois, até tomar vergonha na cara e voltar pras minhas cachaças coloridas.

~

Quando eu saí ela já estava perto do portão, sentada sozinha debaixo da luz do poste, rodando entre os dedos uma garrafa de um jeito bonito, parando-a no ar e enchendo um copo imaginário com a outra mão.

- Olá. - Eu disse, e Beca tomou um susto, quase derrubou a garrafa e o copo imaginário, se fosse de verdade, teria se espatifado todo no chão. Ela xingou algo que eu não ouvi, sorriu nervosa e levantou rápido.

- Vamos? - Confirmei com a cabeça ainda rindo enquanto caminhávamos para o ponto de ônibus. - Pelo menos eu não derrubei a garrafa, tá!

- Era legal, isso que você tava fazendo, girando a garrafa.

- É. - Ela concordou e continuou. - Me sinto a própria Piper Perabo em 'Show Bar'. - Como se eu soubesse quem era, e ficou rindo. - E você, a moça lá parou de olhar pra sua bunda?

- Não sei. Mas espero que meus atributos físicos pelo menos me rendam um bom lugar da pista VIP na lista que sai amanhã.

- Já eu prefiro não criar esperança nenhuma de estar no bar da pista VIP, porque né, os outros barmans são muito mais experientes do que eu e com história de parte física nem água pra mim, meus instrutores... Tinha um que não tirava os olhos do muque do cara que tava do meu lado. Derrubou umas duas garrafas, distraído com os braços do rapaz. - Nós dois rimos.

- Ah Beca, mas você tem o chefe! O cara tava praticamente te comendo com os olh... Ai. - Ela me beliscou. - Doeu!

- Pra você deixar de falar coisa besta e dar sinal pro ônibus que tá vindo aí. Anda. - Eu ri. Beca também. Nós subimos no ônibus.

Faltavam menos que duas quadras quando eu tirei os fones dos ouvidos e entrei num discreto estado de desespero.

- Eu não sei o que falar pra ela. Eu não sei o que ela quer ouvir. - Beca respirou fundo.

- Sal, eu sei que você não é tapado. Às vezes parece, mas eu sei que você não é. Ela tem medo. Medo de perder você por ainda ser... Ser...

- Virg... - Eu tentei ajudar, mas ela deu um tapa no meu braço e completou:

- Um unicórnio. Para, não ri que eu to falando sério. - Eu ri mesmo nervoso. - Alice é um tipo raro de mulher pra se encontrar por aí. O único problema dela é a insegurança revoltada que você conheceu hoje de manhã. Ela tem de frágil o tanto que tem de bonita. Então...

- Eu já entendi. - Falei, levantando pra pedir parada. Nós dois descemos do ônibus bem em frente ao portão da escadaria.

- Espero que tenha entendido mesmo, garotão. Agora vai lá ganhá-la outra vez! - Beca disse, me empurrando e dando um tapinha camarada nas minhas costas. - Boa sorte.

Eu virei de frente pra ela, baguncei seu cabelo, beijei-lhe a testa, sorri, então voltei pra subir as escadas e ter de volta a minha linda.

Um comentário:

Priscila Garcia disse...

Os capítulos são tão bons que chega dá uma angústia qnd acaba. rsrsrs
Parabéns Luiza, a história está cada dia mais interessante! ;D