sábado

Capítulo 13 - Galpão (Parte 3)

Dois minutos (e mais alguns goles) depois, lá estava eu, atolada entre a cover das chiquititas que se encontrava no colo do próprio Bruno e Alice no colo de Sal e Breno dirigindo, com Verônica ao lado, à caminho de uma outra festa onde nenhum de nós tivesse que servir drinks, e onde eu pudesse abrir a temporada de caça, posto que vocação pra castiçal nunca fora minha praia.

- Então, Rebeca. - Começou a biscate infante, tentando iniciar uma conversa amigável com a única pessoa propensa a cravar as unhas nos olhos dela apenas o suficiente para que ela precisasse de um cão-guia. - Bruninho me falou que foi você quem arranjou o convite. Obrigada.

O dispositivo de sarcasmo do meu cérebro foi ativado ao nível máximo (ainda sem decidir se o que o disparou foi o "Bruninho", ela ter pensado que eu arrumei o convite pra ela, ou o fato dela parecer bem mais jovem e simpática e bonita que eu). Um dos sorrisos mais cínicos do meu acervo com uma resposta tão ácida quanto as dezenas de limões que eu havia metido nos drinks a noite inteira. Mas Alice foi mais rápida que o meu raciocínio estremecido pelo álcool corroendo determinadas partes do meu bom senso. Segurou minha mão, fazendo um rápido sinal negativo com a cabeça e mudou de assunto para o quanto ela estava alegre em ver Sal e eu trabalhando juntos, me deixando extraordináriamente mais confortável. Ou não. Ou definitivamente não.

Isso monopolizou a conversa até chegarmos à entrada da outra festa, quando pararam pra prestar atenção no tanto de pessoas que era possível caber num Astra enquanto descíamos dele, não teve nenhuma alma sã pra calar minha boca e eu finalmente pude começar a destilar meu veneno na criança indefesa de Bruno.

- Vocês ainda não me contaram a história de como se conheceram, não é Meli...? Tai...? Como é mesmo o seu nome?

- Juliana. - Ela disse tentando sorrir mais do que realmente queria, Alice logo atrás da gente só fazia rir e balançar a cabeça negativamente olhando para a minha pessoa.

- Juju querida, claro, como eu poderia esquecer, então, vocês se conhecem há muito tempo? - Perguntei, entrando na boate, sendo horrorosamente simpática e sedenta por álcool como nunca dantes navegante pelos caminhos tortuosos da imensidão oceânica dos porres.

A meretriz em forma de guria iniciou todo um discurso provavelmente ensaiado - sobre uma loja de camisas masculinas, um sorvete de casquinha, as formidáveis costas do Bruninho dela e uma chuva de flertes mútuos há mais ou menos duas ou três semanas - como se eu fosse realmente prestar atenção. E quando ela terminou de contar toda a historinha sem graça de se querência à primeira vista dos dois a única coisa que eu consegui dizer foi:

- Aham, fofo, mas vem cá... Quantos anos você t...? - Verônica e Alice me interromperam, carregando-me violentamente para o desconhecido.

- Tá bom, Beca. Você já falou o suficiente para se odiar quando acordar amanhã. - Verônica disse, comentendo o erro fatal de me encostar na cadeirinha do bar.

- E vocês queriam que eu fizesse o quê? Ficasse calada vendo esse bocó esfregar a criança que ele adotou como a da vez pra comer, na minha cara?

- Essa aura nebulosa vindo da sua direção é tudo ciuminho, dona Beca? - Alice começou.

- Claro que não.

- Como não, Rebeca?! Você tá verde de tanto ciúme do fato de Bruno estar aqui e - Verônica apontou e lá estava Bruno enterrando a língua dele inteira na garganta da menina. - não ser você sendo parcialmente deglutida alí nos braços dele.

Eu me virei pro cara do bar:

- Moço, uma vodca, por favor. - Olhei outra vez pra elas - Vocês estão completamente loucas. - Peguei o copo com a dose e virei. - Outra dessa, por favor moço. Vocês duas estão ficando doidas.

- Não moço, não precisa. - As duas disseram ao mesmo tempo, eu olhei outra vez pra Bruno, sorrindo cafajeste pra ela de um jeito que ele nunca sorria pra mim, dançando a música lenta com as mãos na cintura fina dela, trazendo-a mais pra perto.

- Ah, precisa sim! - Eu disse, tomando o copo da mão do cara do bar e virando tudo de uma vez só antes que as duas pegassem antes de mim.

- Você já tá meio bêbada, Rebeca. Vamos parando por hoje.

- "Parando"? - Disse rindo, ao levantar da cadeirinha do bar. - Meus amores, eu só comecei. - Alice revirou os olhos. Verônica riu. - Agora vocês podem voltar aos seus digníssimos. Eu vou caçar um para mim, uma vez que eu cansei de segurar vela de vocês por hoje. - Eu olhei pra Bruno de novo. - De todos vocês.

Olhei de lado, havia um belo rapaz, ombros fortes, cabelo curto, moreno, lindas e convidativas mãos. Alice e Verônica deram a volta e foram para seus boys. Joguei o cabelo pro lado, mordi o canto da boca e sorri, dando dois passos rebolantes em sua direção.

- Oi. - Falei pra ele, enquanto pedia um outro drink ao cara do bar.

- Olá, moça mais bonita da festa. - Velho truque do sorriso tímido. - Eu até me ofereceria pra pagar este drink para uma mulher linda assim, se a festa não fosse open bar. - Sempre funciona.

- Tenho certeza que um rapaz tão educado assim até me chamaria pra dançar. - Respondi tomando um curto gole da taça que o moço do bar me havia entregue, checando a localização de Bruno, se esfregando horrores na crica no meio da pista de dança, uma vez que o que eles tavam fazendo tava bem longe do verbo dançar. O meu alvo falou no pé do ouvido, chegando mais perto:

- Esse rapaz educado precisa necessariamente saber dançar?

- Não, até porque seremos dois sem saber em que parte do outro pé pisar primeiro. - Ele riu e tirou minha franja dos olhos. - Posso saber o nome desse rapaz pra pararmos de falar na terceira pessoa?

- Gui. - Ele disse, estirando a mão pra mim. - E você?

- Rebeca, prazer. - Você não tem ideia do tanto.

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