- Vai você. - Marcela mandou, eu reclamei mas fui.
Fui e tomei um susto.
- Oi. - Era o rapaz, aquele rapaz. Ombros fortes, cabelo curto, moreno, lindas e convidativas mãos. O carinha que eu peguei na festa.
- Er... Hm... Mmm... - Alguém, por favor, pega uma pá pra juntar os cacos da minha cara e uma vassoura pra varrer toda a ressaca moral que não me permitiu falar alguma coisa.
- Rebeca, né? - Meu estado de leseira não me deixava falar. - Sou eu, o Gui...
A gente se conheceu ontem, na festa... - O coitado já tava constrangido e não era pra menos, eu olhava pra ele como se ele fosse um ET.
- Eu lembro de você! - Marcela disse pra salvar minha vida. - Vocês já se conhecem? O Gui faz Educação Física, vai ser o novo instrutor do Centro Comunitário. Beca também dá aulas lá.
- Que bacana. - Foi o que saiu da minha boca. - Colega novo. Super bacana.
- Nossa, que estranho. Eu vim deixar os documentos que ficaram faltando no cadastro lá pra Marcela e te encontro aqui, tô com o seu celular.
- Meu celular! - Porra, eu tinha perdido meu celular. Gui entregou um envelope amarelado pra Marcela e perguntou:
- Tá ali no carro, eu to um pouco com pressa, tenho que pegar meu irmão num aniversário, será que você pode descer comigo lá pra buscar?
- Claro. Vou sim. Sem problema. Aham.
- Então, obrigada por me receber uma hora dessas. Vou indo. - Ele deu um beijinho carinhoso na bochecha de Marcela.
- Tchau. - Ela falou. Eu saí acompanhando o rapaz pela escadaria.
- Desculpa ter saído daquele jeito ontem. - Falei. - Eu tava com a cabeça um pouco longe.
- Não tem problema. - Ele riu com o canto da boca. - É muita coincidência!
- Verdade. - Eu tentei rir também, só que soou um pouco mais agudo do que eu esperava. - Ér... Como foi mesmo que eu perdi meu celular? - Agora Gui riu com a boca inteira.
- Bom, você estava tentando sair da festa meio que desesperadamente, daí eu falei "Você pode pelo menos me dar seu telefone?", então você tirou ele do bolso, jogou pra mim e saiu.
Eu discretamente escondi meu rosto com as mãos.
- Me desculpa, sério, me desculpa de verdade. Ontem eu tava fora de mim.
- Não se preocupe... - Ele disse, enfiando o braço pela janela do carro. - Pelo
menos foi engraçado. - Pegou meu celular e me deu.
Nós dois ficamos parados, olhando para a paisagem por uns três minutos inteiros até eu me lembrar que ainda estava com a minha camiseta gigante do Patolino no meio da rua.
- Então... - Eu disse - A gente se vê qualquer dia?
- A gente se esbarra lá pelo Centro... Eu vou indo.
- Ér... Vou voltar pra lá. - Apontei pro apartamento, idiota. - E me desculpe de novo. - Gui sorriu mais uma vez, me deu um beijo na bochecha e entrou no carro.
- Tchau e não se preocupe, moça mais bonita da festa. - "A mais babaca também."
Ligou o carro, saiu, eu voltei pro alto da escadaria e sentei ao lado da cara maquiavélica de Marcela que tava lá stalkeando tudo.
- Como assim ele tava com o seu celular?
- Foi ele, o cara que eu fiquei na festa pra fazer ciúmes no Bruno. - Ela fez que sim com a cabeça, depois bagunçou meu cabelo.
- Como é que você consegue ficar com os caras gatos que eu conheço assim, no mesmo dia? - Eu dei um murrinho no braço dela.
- Ah cala a boca, Marcela. - E nós rimos por mais meia-hora, dessa e de outras besteiras, até Bruno abrir o portão.
- Boa noite, meninas. - Ele passou deixando um beijo na testa de Marcela, nada pra mim e o perfume na roupa era de mulher, rapidamente entrou em seu apartamento, fechando a porta.
- Por que você não vai lá conversar com ele?
- Eu não quero conversar com ele. - "Mentira, eu quero." - Acho que não tem mais nada pra ser dito. - "A não ser esse monte de coisa entalada na minha garganta."
- Bom, você quem sabe. - "Não, eu não sei."
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