quarta-feira

Capítulo 5 - Abrigo (Parte 1)

O beijo de Bruno era como eu lembrava, se moldava ao meu. Da primeira vez, naquele aniversário de Marcela, eu lembro de estar toda me tremendo, loucamente nervosa, coração palpitando em velocidade irracional, daí a gente se beijou, e eu senti uma calma inenarrável, como se eu pudesse ter certeza que eu não tava fazendo nada daquilo errado. O beijo de Bruno me dava o que estava faltando no meu. O gosto da proteção, da segurança que eu tanto precisava naquela hora ao alcance da minha boca. Eu simplesmente adorava isso, deixando durar, e durar, e durar sem a mínima noção do tempo que estava passando pela gente naquela escadaria.

Depois que o beijo acabou, demorou alguns giros no ponteiro dos segundos para que pelo menos um de nós dois voltássemos pra esta dimensão. O fato de minhas mãos começarem a tremer pareceu uma reação imediata à ausência da boca dele na minha, tudo veio na minha cabeça outra vez, o gosto amargo da realidade, de Sal ter olhado e ido atrás da Alice e não de mim, de não poder fazer nada pra mudar isso, de estar usando Bruno pra fugir desesperadamente disso tudo. Eu voltei a respirar, fundo que nem o poço onde eu queria me jogar.

Quando eu abri meus olhos, os dele continuavam fechados. Foi um passo-a-passo agoniante: Eu saí do colo dele, sentei por uns três segundos, mordi minha boca em reprovação a mim mesma, levantei e comecei a subir a escadaria em direção à república. Então congelei, ao ouvir:

- "Não me mostre o paraíso e depois o destrua" - Ele disse depois de respirar o mais fundo que pôde. - Eu li isso uma vez, e agora me parece a resposta certa daquela pergunta. É maldade beijar você sabendo que uma hora vai acabar essa sensação, sem ter sequer ideia de quando eu vou poder sentir isso outra vez.

Respirei com dificuldade, voltei três degraus e olhei nos olhos de Bruno com a consciencia tão pesada quanto um elefante de circo. Eu queria pedir desculpas pelo beijo, por não ter conseguido resistir à ideia de usá-lo pra esquecer minha insegurança. Eu queria abraçá-lo, queria me jogar num poço, prometer que não iria iludi-lo nunca mais e que tudo ia continuar normal, como se nada tivesse acontecido. Eu queria tudo isso, mas a unica coisa que saiu foi:

- Me desculpe. - Indo embora à caminho de algum lugar dentro daquele apartamento depois da escada onde o ar não estivesse tão rarefeito.

Era quase meia noite, não havia ninguém na sala. A louça estava lavada, tudo em silêncio. Passei direto pra minha abençoada cama onde por mais filha da mãe que eu fosse em qualquer lugar do mundo, sempre me sentiria acolhida alí. O quarto estava vazio e eu presumi que era Alice quem estava tomando banho - adormeci tão rápido quanto comecei a chorar depois de ter me deitado.

2 comentários:

Ninguém Te Disse disse...

Música: A próxima vez - Playmobille
http://letras.terra.com.br/playmobille/942797/

:] disse...

rebeca é muuuuuuuuito safada mermão u.u