segunda-feira

Capítulo 5 - Abrigo (Parte 3)

Jantei ao som nada doce aos meus ouvidos de Alice contando como havia sido entregar a foto e ficar conversando com Sal até ver que havia perdido a hora do ônibus e sobre como foi bom vir andando porque o céu estava mais lindo do que nunca esta noite. Eu estava pra quebrar a perna da mesa e tacar na cabeça dela pra ver se ela calava a boca, mas eu tinha feito minha escolha, eu sabia que fácil não ia ser, então não podia reclamar, somente ouvir e esperar a comida, enchendo minha boca, mantendo-a ocupada pra que eu nada tivesse que falar, ter a boa vontade de descer goela abaixo.

Breno apareceu à porta, sorrindo.

- Boa noite mulheres mais lindas do meu coração. Que cheiro maravilhoso o desse jantar... Não foi a Beca que fez não, né? - A gente riu, Verônica mandou ele deixar de besteira e entrar logo. Ele riu maroto, ao entrar deu um beijo no rosto de cada uma de nós, e sentou-se bem ao lado de Veronica que olhou-o de um modo não muito comum, interessante.

- Marcela quem fez, sobrou. Você já comeu? - Ela perguntou num tom mais doce do que seu normal, Marcela também percebeu e olhou pra mim com cara de quem ia começar a rir em 3.. 2..

- Não - Breno respondeu fazendo cara de cachorrinho abandonado - O Bruno que é o gêmeo cozinheiro, e ele tá todo estranho desde ontem, não fala nada, não comeu nada o dia todo e acha que eu quero mofar de fome que nem ele. - Eu gelei. Verônica e eu nos levantamos e começamos a rapar as panelas enchendo pratos limpos.

- Vai repetir, Beca?! - As meninas perguntaram estranhando, eu nunca fazia mais de um prato, fazia uma montanha de comida num prato só (amundiçada) mas nunca fazia outro prato.

- Não, não. - Respondi, quieta. - Vou lá deixar um pouco pro Bruno pra ver se ele come... Volto já. - E saí antes de ouvir as piadas prontas na ponta da lingua de Veronica, Breno, Marcela e Alice.

A porta do apartamento dos gêmeos estava entreaberta, mas mesmo assim resolvi bater. Três toques, sem campainha. A situação era tensa demais pra campainhas. Contei até cinco e abri o resto da porta, segurando o prato numa mão e meu coração na outra.

- Bruno?... - Tomei fôlego e chamei sem quase um pingo de voz.

Ele tava lá, deitado no sofá em frente a porta, de olhos fechados, vestindo seu calçãozinho vermelho, com os fones no ouvido e o bico de raiva que ele sempre fazia quando não estava bem. Botei o prato sobre a mesinha perto do sofá o mais discreta e não-estabanadamente que consegui, sem sucesso. Ele abriu os olhos, tirou o fone e sentou no sofá, olhando pra mim de um jeito tão.. inenarrável, que eu não conseguia olhar de volta.

- Eu... Trouxe seu jantar. Fiquei preocupada, Breno disse que você não comeu nada o dia inteiro... Então, - Eu levantei e comecei a ir em direção à porta sem olhar nos olhos dele de novo. - O prato tá aí em cima da mesa, eu já vou andan... - Eu ouvi os passos vindo na minha direção.

- Rebeca. - Ele me chamou. À menos de dois dedos de distância de mim, Bruno fechou a porta, me encostando na parede silenciosamente, eu continuei olhando pro chão. - Olha pra mim. - Eu não tinha saída, então olhei nos olhos dele, mais perto de mim até mesmo que os meus, minhas mãos geladas e o coração dele num disparo tão grande que eu tive medo dele enfartar por nós dois, porque o meu já tinha começado a bater tão rápido quanto a velocidade seis do créu. Durou quase uma eternidade até que ele pedisse - Por favor, não vá agora. - segurando minha mão.

- Eu não vou. Mas você vai comer o que eu trouxe. Breno falou que você... Não come nada desde ontem. - Ele torceu a boca, fez que sim com a cabeça, sorriu de lado e soltou minha mão, indo até o armário da cozinha, pegar garfo, faca e uma lata de refrigerante. Sentou no sofá, pôs o prato no colo e por alguns segundos encarou-o desconfiado. - Não se preocupe com a dor de barriga, não fui eu que fiz, foi a Marcela. - Ele riu e curiosamente começou a comer quase que imediatamente ao saber que não era eu quem tinha cozinhado.

- Vai ficar aí de pé me olhando comer? - Perguntou, com a boca cheia, eu ri e me sentei na poltrona ao lado dele e de frente pra tv. Bruno devorou toda a comida em menos de três minutos onde não se falou nada.

- Então... Eu acho que eu já... - Eu disse tentando levantar da cadeira, só que ele pôs a mão sobre a minha perna, pedindo que eu ficasse mesmo sem falar nada.

- Eu ainda não entendi uma coisa. - Ele começou a falar, apertando os olhos como toda vida fazia quando não estava lá muito certo se iria gostar do que iria falar ou ouvir.

- O porquê de eu ter deixado que aquele beijo de ontem acontecesse depois de te dar um fora no dia que a gente saiu? - Presumi que seria mais fácil se eu concluísse o raciocínio pra ele, e ele concordou.

- Isso. Você pode me responder?

- Posso, mas acharia melhor fazer isso se não tivesse gente tentando ouvir a conversa atrás da porta, sabe? - Falei e automaticamente ouvi a voz de Breno sussurrar um curto "porra", Bruno revirou os olhos, levantou, abriu a porta e lá estavam Verônica e Breno.

- A gente não tava tentando ouvir não, eu juro. - Ela disse, convincente.

- É que ficamos sem graça de abrir a porta e acabar atrapalhando a conversa e tal... - Breno completou, nervoso com a cara que Bruno fazia pro lado dele, mexendo compulsivamente no cabelo que ele insistia em deixar grande pra que parassem de confundir os dois. - Err...

- Anda, entrem logo! - Bruno disse olhando com uma cara de "Te pego na saida" para Breno, que entrou quase correndo no apartamento, seguido por Verônica. Bruno olhou pra mim indicando a saída com a cabeça enquanto pegava uma camisa sobre o móvel da tv. Eu levantei da poltrona e o andei com Bruno até a escadaria.

- Parece que a gente sempre acaba por aqui, né? - Eu disse sorrindo.

Ele se colocou à minha frente, cruzando os braços. Sua mandíbula estava tensa e dava pra ver seu coração acelerado sob a blusa cinza, o vento bagunçando tanto o cabelo dele quanto o meu. Eu tinha de falar.

- Eu preciso de você, Bruno. Preciso que fique perto de mim, mais do que nunca. Eu preciso que me proteja, sei que é o único que pode, porque você é a única pessoa com quem eu me sinto à vontade pra ser verdadeira sobre tudo, mas principalmente sobre mim desde todo esse tempo que nós nos conhecemos. - Eu tentava lembrar de respirar, mesmo sem sucesso - E depois de sexta, eu me dei conta que pra ter isso de você sem que tenha nada em troca, é muito egoísmo da minha parte... Eu sei que tenho sentimentos por você que não consigo entender nem definir, e tenho impressão que isso ainda não é suficiente para ser recíproco ao que você sente por mim, então eu pensei que poderíamos... Tentar, porque sem você eu tenho muito medo de quase tudo, e com você... Eu sinto que tenho um abrigo no meio de tudo isso. E mais uma vez eu peço que me perdoe por isso, por gerar toda essa situação. - Eu fechei os olhos e respirei o mais fundo que consegui, até sentir os braços dele ao meu redor e sua boca na minha outra vez.

4 comentários:

Ninguém Te Disse disse...

Música: Just Hold Me - Maria Mena

Unknown disse...

tô viciado nessa história

Disse? tá Dito disse...

BRUNO EU #PRECISODOSEUCARINHO -HAHAHA

Juliana Melo disse...

quero um Bruno assim pra mim, onde comprar? *-*