quarta-feira

Capítulo 8 - Belo Desastre (Parte 5)

- Eu sei que você não gosta de mim. - Foi assim, desse jeito. Eu estava subindo a escadaria desesperada pra me livrar da presença de Sal e todo aquele silêncio constrangedor que nos acompanhou da boate até aqui, mas minhas pernas pararam estagnadas no sexto degrau. Ele disse com um meio sorriso no seu rosto moreno, falando mais sério do que deveria parecer.

- An? - Foi tudo o que conseguiu sair da minha boca.

- Eu sei que você não gosta de mim. Porém, estou determinado a mudar isso. - Sal falava, nervoso e gesticulando rapidamente. - Agora que a gente vai trabalhar junto e eu amo a sua amiga e...

- Ama. - Repeti pra ver se eu me convencia e parava com essa fixação por ele. - Você a conhece há o quê? Um mês?

- Não é uma coisa tão difícil... - Ele sentou no batente da escada, ficando vermelho e encabulado. - Pior que amá-la é tentar convencê-la de que eu falando a verdade.

- Mas o que eu tenho a ver com isso?! - Perguntei, começando a ficar agoniada com o rumo que aquela conversa tomaria. Sal sorriu sem graça tão lindo, tirou a bolsa do violão das costas e eu sentei pra ouvir a resposta.

- Ela fala sobre você. Fala tanto e tão bem sobre você, sobre as coisas que você diz, que eu pensei que você... Eu sou um idiota que nunca amou ninguém. Daí ela apareceu, meu mundo virou de cabeça pra baixo e eu não tenho a menor idéia de como lidar com isso. Eu preciso ver que ela está sorrindo pra poder sorrir com a consciência limpa, preciso protegê-la pra poder me sentir protegido. Talvez eu não esteja explicando muito bem... Sabe uma bússola? Pronto, Alice é o meu norte.

Inveja. Eu vi em mim a inveja de cada sílaba rouca e sincera que saía desconsertada da boca de Sal. Eu queria tomar elas e a boca que as dizia, e sair correndo pra onde ninguém pudesse tomá-las de volta. Eu senti meu coração bater tão devagar que eu pensei otimista que ele resolvesse parar de vez.

- Você já disse tudo isso pra ela?

- Não.

- Então por que você me disse? - Perguntei, confusa.

- Eu não sei. - Ele respondeu, mais confuso do que eu, e riu. Ele riu rouco com cara de desespero. Eu estiquei a mão e baguncei o cabelo dele em empatia, afinal nenhum de nós dois estávamos habituados a ter... Sentimentos.

Então alguém abriu o portão e meu coração continuou inerte. Misture abandono, com ciúme e gosto de traição. Foi o que eu senti quando Bruno empurrou o portão, e segurando a periguete bandida pela mão. A mão dele segurava a mão dela.

- Boa noite. - Disse a periguete decotada com sua voz sensual de locutora de motel (e eu nunca nem fui num motel). Eu não consegui ter nenhuma reação além de tirar as mãos do cabelo de Sal.

- Boa.. Noite. - Bruno disse, tenso, olhou ciumento para Sal que retribuiu a saudação, e evitou o meu olhar.

Como se não precisasse me dar explicação alguma. Ele não tinha que me explicar nada. Nós não tinhamos nada. Nós não éramos nada. Eu me senti um nada, quando ele murmurou um "com licença" qualquer e saiu levando a periguete avulsa rumo ao seu apartamento. Ótimo. Tudo o que eu precisava.

- Vocês não estavam...? - Sal tentou começar a pergunta que eu estava fazendo a mim mesma, mas desistiu no meio do caminho. Continuei calada, olhando pra porta do apartamento de Bruno. - Bom, obrigada por me ouvir. Você deve estar cansada... - Ele levantou da escadaria. - Eu ja vou indo...

- Desculpa pela quebra súbita do diálogo. Tenta falar aquilo pra ela. Se eu acreditei, é bem provável que ela se convença também... Boa noite.

Tentei forçar um sorriso mas não deu muito certo. Não consegui decidir o que era exatamente mais difícil, se era deixar Sal e tudo aquilo que ele não sentia por mim sair pelo portão ou ver Bruno entrar porém não pra ficar comigo. Belo dia, Beca. Belo dia.

Subi para o apartamento, ignorei as meninas jogando baralho com Breno na sala e voei para a segurança da minha cama dando uma ultima olhadela no relógio na esperança de depois me afogar no sono: Meia noite, em ponto - pena que não havia ninguém pensando em mim.

Nem cinco minutos depois, Alice e Marcela entraram no quarto.

- Pode abrir os olhos, Beca. - Alice mandou e Marcela completou sentando na minha imaculada cama:

- A gente sabe que você não tá dormindo. - Eu respirei fundo, afundei minha cara no travesseiro e sentei dando espaço para Alice sentar também.

- Tudo bem. Eu conto.

-

Má ideia, má ideia, má ideia. Eu ficava repetindo pra mim mesmo enquanto fechava a porta do apartamento sorrateiramente, vendo ela olhar pra mim como se eu tivesse acabado de cortar lentamente um pedaço do seu coração com uma faca cega. Só que ELA tinha começado, mas eu só começava agora a me perguntar se ela sabia que tinha.

- Bom... Por onde co-começamos? - Perguntei nervoso, segurando um dos livros e começando a folhear. Gabi olhava pra mim como se eu fosse algo de comer, pegou o livro das minhas mãos e jogou pro lado e me agarrou.

O lado negro com a força dos hormônios em fúria insana quase não me permitiram afastar Gabi, seu cabelo loiro e seus seios fartos, mas eu fui mais forte.

- O que foi? - Ela perguntou confusa, quando eu a afastei um pouco depois dela mesma ter posto minha mão em sua bunda (que não era pequena), até porque se eu não parasse naquela hora, não sei se teria auto-controle suficiente para parar.

- É que... Me desculpe. - Eu disse, tirando ela de cima de mim e sentando no sofá, ainda muito nervoso. - É que...

- Oh... - Ela falou, sem jeito. - Não se preocupe. Às vezes essas coisas.. Acontecem, ér... Não é mesmo? Talvez eu não seja o seu tipo...

- Não não. Não é isso não. Você é linda, e gata, maravilhosa e eu provavelmente adoraria passar o resto da noite com você, se eu não estivesse fazendo isso pelo motivo errado.

- Humm... Deixa eu adivinhar, a morena na escadaria?

- Tá tão na cara assim? - Perguntei envergonhado bagunçando o cabelo, ela abotoou o sutiã e sentou do meu lado, sorrindo.

- Quer me contar o por quê de nós não estarmos nos pegando neste sofá agora ou eu vou ter que ir embora daqui sem sequer ouvir uma boa história?

Eu ri sem humor, Gabi foi à geladeira pegou duas convidativas cervejas, só então eu comecei a contar.

~

- Eu saí com o André. - Falei rapidamente, já sabendo o que viria a seguir.

- André, que André?! - Marcela perguntou surpresa.

- André, AQUELE André? - Alice no mesmo tom. - O LINDO que faz odonto ou outro André?!

- Esse mesmo. - Eu disse afundando mais outra vez o travesseiro na minha cara.

- QUANDO?! - As duas ao mesmo tempo.

- Segunda, depois da última aula.

- Aquele dia que você chegou depois das onze! Por isso não queria dizer onde tava! - Alice observou seguida por Marcela:

- Eu sabia que não era boa coisa... - Dei um nada carinhoso beliscão nela - Ai.

- Eu peguei o ônibus errado, que EU JURO por acaso, era o dele e nós começamos a conversar, então pra não perder a viagem ele me chamou pra jantar qualquer coisa perto da casa dele. A gente perdeu a noção da hora conversando e eu peguei o ônibus certo de volta. Só isso.

- Ah Beca, vai dizer agora que tu não pegou? O lindo mais LINDO daquela universidade e nem um beijo pra ficar de lembrança, ou, sei lá, de prêmio?!

- Marcela! Eu .. Tava ficando com o Bruno, não sei se vocês lembram. Não acho que eu me perdoaria se ficasse com outra pessoa sabendo que ele gosta de mim e que (mesmo informalmente) eu .. - Dei de ombros - Sei la.. Tava com ele.

- "Tava"? Como assim "tava"?! - Alice perguntou.

- Ontem eu caí na besteira de falar isso pra ele. Ele disse que não se importava, que tudo bem, porra, eu não fiz por mal... E agora deve tá lá comendo horrores a periguete.

- Lá aonde, menina? Do que você tá falando?! - Disse Marcela, confusa.

- Gabi. A periguete que estuda com o João. - Marcela e Alice fizeram careta ao mesmo tempo. - Vi os dois conversando hoje de manhã, e agora ele chegou alí de mãos dadas com ela, passou por mim como se nada tivesse acontecendo, levou ela pro apartamento e agora eu nem quero tentar imaginar o que eles tão fazendo lá!

Nós três ficamos em silêncio por quase vinte minutos.

- A viagem ainda está de pé, não tá? - Alice perguntou, eu confirmei, triste.

- Eu arrumei um emprego. - Falei. - Eu e o Sal, aliás.

Marcela me olhou entendendo que a última observação era só mais uma das notícias tristes daquele dia, enquanto alice me abraçava alegre, me dando parabéns.

2 comentários:

Priscila Garcia disse...

Ai, q dia ruim esse da Beca.. =/

Venho aki tdos os dias ver se tem postagem nova.. hahahaha.. fiquei viciada nessa história!! xD

Bjuh! =*

Disse? tá Dito disse...

Só pra constar: Luiza, você faz de propósito né? Eu já tenho abuso do Sal e da Alice e você me vem com essa tal de Gabi? Tenha dó. Quer que eu odeio todo mundo é?