terça-feira

Capítulo 3 - Encontro (Parte 2)

OBS: Bruno narrando.

Os olhos dela pregaram no cara com o violão. Não era um olhar normal, era quase que devoção. A atenção dela estava tão colada nele que parecia Super Bonder, um olhar permanente, intocável. O máximo que eu conseguiria dela seria um mísero Cola de Isopor, mais pra brincar do que pra qualquer outra coisa. Sempre passageira, nunca minha de verdade.

Quando nós tinhamos 13 anos, morávamos na mesma rua, estudávamos na mesma escola, tínhamos atividades recreativas no mesmo centro comunitário, tinhamos os mesmos amigos, o mesmo gosto bizarro como o de bolacha recheada de chocolate com Fanta laranja, a mesma idade... Aniversário de 15 anos de Marcela, uma puta festa, eu me lembro. O clube lotado de pessoas descoladas e nós, eu, Beca, Alice, Breno totalmente deslocados - ela é mais velha que a gente, sendo assim, praticamente todos os convidados eram mais velhos que a gente. A tia de Alice veio buscá-la, Breno se enturmou com um pessoal, e eu e Beca lá feito lesados.

- Quer dar uma volta? - Falei pra ela, sentada do meu lado, que deu de ombros, sorriu displicente, levantando:

- Por que não? Melhor que ficar aqui. - E saímos andando sem rumo pelo jardim do clube onde era a festa. Acabamos voltando e sentando na grama, mais perto da entrada, mais longe dos casais efusivos na parte mal-iluminada do jardim.

- Bruno. - Ela me chamou, olhando pras estrelas.

- Oi. - Respondi, sem nem imaginar que, do nada, viria a pergunta mais apaixonante que uma garota já me fez na vida.

- Cê já beijou?

- Que tipo de pergunta é essa, Rebeca? - Perguntei, deitado na grama, olhando pro céu.

- Ah, uma pergunta simples, cê já beijou ou não?

- Não - Respondi não muito entusiasmado - E você?

- Também não... - A frase se perdeu no vento, e eu quase morri de curiosidade pra saber o que diabos aquela criatura tão perversamente linda estava matutando naquela caixa de Pandora que era sua mente maligna enquanto tocava Lifehouse na festa lá dentro.

- Mas por que a pergunta? - Ela deu de ombros.

- Sei lá... Só tava pensando no quanto deve ser estranho isso, nossa. - E fez uma cara de nojinho. - Língua... Eca.

- Mas deve ser bom. - Eu disse, pensando alto - Se não fosse, por que as pessoas continuariam a fazer isso?

Houve uma pausa enquanto nós dois tirávamos nossas próprias conclusões sobre o assunto, até que:

- Você... - Dissemos os dois ao mesmo tempo.

- Diz você. - Falei.

- Não, você fala primeiro. - Ela disse.

- Eu só tava pensando se nós...

- Deveríamos tentar?! - Beca me interrompeu. Mas era justamente isso que eu iria dizer. Então concordei.

Nos sentamos na grama, um de frente pro outro, meu coração quase saltou fora de tanto que pulava enquanto íamos com os olhos fechados, uma boca em direção à outra, duas bocas que logicamente se desencontraram. Nós dois rimos tanto que caímos deitados outra vez na grama. E rimos mais um pouco, até que tudo ficou quieto.

- Você... - Dissemos os dois ao mesmo tempo. Outra vez.

- Diz você. - Ela disse.

- Não, você primeiro. - Eu falei.

- Acho que a gente...

- Devia tentar de novo? - Eu sugeri. Dessa vez tratei de fechar os olhos só quando minha boca e a dela já estavam juntas. Estranho, desajeitado, mas era bom, muito muito bom. E desde esse dia, não teve um sequer em que eu não ouvisse aquela música sem me lembrar dela.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lu,
Acabei de ler os capítulos e nossa, eles são bons. Super me identifiquei com a Rebeca na conversa que ela teve com a Marcela!

Keep Going! :D
:*

Sabrina disse...

Cada capítulo que passa fica melhor, vs escreve bem demais :D

Ninguém Te Disse disse...

Música: You and Me - Lifehouse