segunda-feira

Capítulo 3 - Encontro (Parte 3)

O show acabou depois de 15 músicas, uma pizza pequena e uma Fanta laranja de 500ml, ele desceu do palco e eu o perdi de vista. Olhei Bruno, que parecia muito longe dalí, olhando sabe lá Deus pra onde.

- Ei. - Falei, dando um leve toque no braço dele. - Ainda está por aqui?

Bruno voltou de onde estava perdido, bagunçou o cabelo e sorriu.

- Eu estou sim, e você, já voltou? - Eu o olhei confusa, ele riu. - Deixa pra lá.

Pagamos a conta e saímos do simpático lugar.

- O que quer fazer agora? - Bruno perguntou pra mim, eu dei de ombros.

- Quer dar uma volta? - Falei. E ele riu, pausa que eu não entendi a piada. - Que foi?

- Nada não, só um dejá vu, eu acho. - Eu levantei a sobrancelha.

- Tinha alguma coisa na sua bebida? - Nós dois rimos andando até o carro.

- Não... A não ser que você tenha colocado pra abusar sexualmente de mim depois que eu estivesse dopado. - Eu ri e dei um murrinho carinhoso no braço dele, fazendo careta.

- Claro que não pus nada na sua bebida. Até porquê, se eu fosse abusar sexualmente de você, creio que iria querer você bem acordado, né não? - Nós dois rimos, e entramos no carro.

- Então. Pra onde vamos? - Ele perguntou ao ligar o carro.

- Pra onde você quer ir? - Respondi, Bruno deu de ombros, tirando o carro da vaga.

- Sempre quis ver a tal fonte que tem numa pracinha que fizeram no fim dessa rua. - Eu sorri concordando.

Demos um passeio adorável, andamos pela praça, vimos a fonte iluminada e voltamos como bons amigos. Era pouco mais de meia-noite de uma madrugada convidativa, então resolvemos nos sentar nos batentes da escada e conversar mais um pouco.

- Eu gostei do lugar. - Falei, sentada, tirando meus abaladores saltos e massageando meus pés.

- Também acho. Devíamos ir lá mais vezes... - Bruno deixou a frase se perder, olhando pro nada.

- Cinquenta centavos pra saber o que diabos você tanto pensa calado assim.

Ele soriu, voltando os olhos pra mim. Coçou a nuca como sempre fazia quando estava com vergonha e disse:

- Não sei porquê, me veio uma certa festa de quinze anos na cabeça, sabe? - Nós dois caímos na gargalhada.

- Gente do céu... Quantos anos faz isso hein? - Ele sentou do meu lado e bagunçou o cabelo ainda rindo.

- Uns cinco, eu acho... Ainda me lembro, você com um vestido rosa, não era? - Eu fiz que sim com a cabeça, mordendo o lábio inferior e sorrindo olhando pro nada assim como ele.

- E você com uma camisa social branca, todo engomadinho e o povo te confundindo com um garçom!

- Mas eu era o garçom mais garboso da festa! - Bruno falou, se achando.

- Você tava se achando um negão porque tinha tirado o bigodinho de moto-táxi, lembra? HAHAHAHA - Gargalhamos mais um pouco.

- Lembro, e eu tava muito gato. Tão gato que você me beijou. - Bruno sorriu levemente safado, levantando a sobrancelha enquanto eu amarrava meu cabelo num rabo de cavalo. Eu fiz uma careta sem parar de sorrir.

- Eu não beijei você! - Relutei. - Você quem...

- Nem vem que não tem. Você quem veio com umas perguntas estranhas pra cima de mim, tentando me seduzir. - Disse Bruno, sem parar de rir, dois dedos revoltado. Eu pisquei e sorri falando:

- E consegui, não foi? - Ele sorriu pra mim, depois ficou com o rosto ruborizado, olhando pro chão.

- Eu gostava de você. - Falou Bruno, como se estivesse só pensando em voz alta.

- E eu de você. - Eu disse. Já tinham tantos anos de intervalo, que não havia problema. Até porque ele tinha admitido também.

Ambos sorrimos, tudo virou silêncio, e houve uma pausa enquanto absorvíamos aquelas confissões relembradas que aparentemente não deviam carregar nenhuma espécie de valor sentimental, mas assim como tantas coisas no mundo, não eram como deviam ser.

Eu levantei do batente segurando meus sapatos, e ia dizer adeus antes que eu pudesse me envolver demais na conversa. Mas quando eu tentei subir um degrau, Bruno segurou minha mão.

- Engraçado que... - Ele começou a dizer. - Eu passei tanto tempo tentando descobrir por que nunca se repetiu... - E levantou de onde estava, chegando mais perto de mim.

- Acho que é meio tarde pra achar repostas para uma pergunta que nunca foi feita, Bruno. - Ele segurou minha mão um pouco mais forte e se aproximou a ponto de ficar menos de meio polegar entre o meu nariz e o dele. Eu me afastei, soltando da mão dele. - Me desculpe, Bruno. Mas eu te avisei que isso não era...

- Um encontro... - Ele completou, sorrindo desanimado. - Foi mal. Tenha uma boa noite.

- Pra você também. Durma bem. - Eu subi a escada e entrei no apartamento, ainda prendendo a respiração.

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Ninguém Te Disse disse...

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