terça-feira

Capítulo 4 - Foto de Segunda (Parte 3)

Eu não disse nada. Apenas tentei sorrir animada enquanto Alice falava dele, gaguejando só por olhar pra foto com a qual ela provavelmente dormiria sem tirar das mãos. Ela falou primeiro, Sal era dela, eu tinha de me acostumar com essa ideia.

Olhando de longe, até mesmo eu me acharia ridícula por estar tão transtornada, eu não tinha sequer trocado duas palavras com ele, mas só em estar no mesmo espaço que ele, da possibilidade de respirar o mesmo ar que ele, minhas pernas já começavam a tremer. Eu sonhava em ouvir aquela voz no meu ouvido bem de pertinho, eu queria vê-lo sorrir pra mim, que ele me abraçasse assim como se agarrava tão carinhosamente àquele violão ao tocá-lo. Só que agora nenhum desses desejos eram mais possíveis, porque Sal era intocavel dela, porque eu não falei nada. Eu tinha de me contentar.

- Beca? Volta pra luz, amiga, o jantar está pronto! - Verônica me chamou, batendo na porta, rindo. Eu sorri, deixando de lado o livro que eu segurava na tentativa de tirar toda aquela situação da minha cabeça, sem sucesso algum. Andei até a cozinha, Alice ainda estava com aquele cacete daquela foto. Eu queria ficar lá e ouvir Marcela explicar seu desaparecimento noturno de ontem à noite, queria encher a paciência dela com perguntas indecentes, queria rir com elas, queria comer o aparentemente saboroso sanduíche que Verônica havia feito, porém eu não aguentava dividir espaço com aquela foto nem com toda a devoção com a qual Alice não parava de babar em cima dela, eu só disse:

- Não tô com fome... Vou dar uma volta. Beijo! - E saí de lá sentindo o olhar desconfiado de Marcela nas minhas costas.

Fiquei sentada ao pé da escada na entrada da república, pensando da morte da bezerra, sentindo uma agonia misturada com raiva, ciúme e uma sensação de falha que nunca me havia ocorrido. Era involuntário, quando percebi meus olhos já estavam enchendo d'água, mas tratei de enxugá-los rapidamente ao ouvir passos se aproximando.

- Tudo bem aí? - Eu levantei o olhar para Bruno, dei de ombros e sorri sem vontade, fazendo que sim com a cabeça. - Acho que você deve estar querendo ficar só então eu já v... - Ele falou começando a subir os degraus, eu interrompi.

- Eu posso falar com você? - Bruno olhou pra mim daquele jeito que só ele conseguia fazer, fez que sim com a cabeça e sentou perto de mim.

- Tava resolvendo umas coisas da escola comunitária, umas contas que o meu avô me mandou pagar, fiquei na fila até uma hora dessas, acredita? - Ele disse, apontando pro relógio, eram quase dez da noite.

- Já fiquei várias vezes até uma hora dessas também. Tudo culpa dos velhinhos que não pegam fila, sempre que era minha vez, vinham uns sete e eu sempre tinha que passar mais dez minutos na fila por cada um, haha. - Nós dois ficamos um tempo em silencio, até Bruno perguntar:

- O que você quer falar comigo?

- Queria te pedir desculpas, acho que fui meio grossa com você, naquele dia que a gente saiu... - Ele deu de ombros e sorriu de lado.

- Não se preocupe com isso.

- Eu me preocupo, porque eu me importo com você. Pode não ser do jeito que você queria, mas eu me importo, e me mata pensar que eu de alguma forma estou magoando você...

- Rebeca. - Ele me interrompeu.

- Oi. - Eu parei de falar e olhei pra ele.

- Você não tem de se desculpar por nada, mesmo querendo você, eu te quero feliz antes de qualquer coisa, e não é assim que você me parece agora. Não se preocupe comigo, você não precisa me falar o que aconteceu, só que eu faço o que você quiser pra você ficar bem, Beca. - Ele disse se chegando, sem intenções, eu pus minha cabeça no colo dele e me senti confortável e protegida o bastante pra desabar a chorar, enquanto ele passava os dedos indo pelo meu braço até a borboleta na minha nuca.

- Desculpa mesmo assim.. - Falei quando consegui parar de soluçar, sem tirar os olhos do chão. - E obrigada por estar aqui.

- Quando é que você vai botar nessa sua cabeça grande que eu sempre vou estar do seu lado quando você precisar, Beca? - Ele disse, fastando meu rosto pro lado, pra que eu pudesse olhar pra ele. - Quando você quiser.

Eu baguncei o cabelo dele agradecendo. Se o mundo fosse como deveria ser, seria de Bruno, não de Sal essa voz o tempo inteiro na minha mente. Nós dois sorrimos. *Mas quem sabe eu não posso escolher isso por mim mesma..?* Ressoou aquela vozinha no meu inconsciente, me dando, de repente uma idéia. *Vai que dá certo?* Eu não me permiti pensar duas vezes.

Bruno ainda sorria quando eu puxei delicadamente seu queixo, deixando a boca dele perto da minha, deixando que ele me beijasse. E ele, mesmo confuso, o fez.

3 comentários:

Disse? tá Dito disse...

B&B Forever. *-*

Cah Marion disse...

B&B Forever [2] *-----*

Ninguém Te Disse disse...

Música: Pés no Chão - Luxúria