terça-feira

Capítulo 6 - Janta é coisa de pobre (Parte 3)

- Bom.. - Interrompendo minha melancolia silenciosa, Breno falou quando já estávamos todos confortáveis e acomodados entre dois sofás, uma cadeira e o chão obviamente, que era onde eu estava com Bruno. - Agora que já chegou todo mundo, vamos à pergunta que não quer calar: Cadê essa janta, Marcela?!

Marcela levantou a sobrancelha esquerda. Eu, Alice e Verônica reviramos os olhos.

- Duzentos aninhos de amizade e você ainda não aprendeu nadinha sobre o temperamento Classe Alta que nunca nessa vida desprega dessa criatura, lindinho? - Verônica sussurrou docemente na orelha de Breno, apontando pra Marcela e fazendo a gente morrer de rir.

- Breninho querido. - Ela começou - Não fala "janta". É um jantar! A palavra "janta" é horrorosa. E, bom, "Janta"é..

- Coisa de pobre! - Dissemos Verônica, Alice e eu. E todo mundo caiu na gargalhada.

- Eu perdi as contas de quantas vezes ela fez seu "discurso sobre o jantar" pra Beca. - Alice falou ainda rindo, enquanto segurava a mão de Sal.

- E eu fiz questão de não ouvi-lo nenhuma vez. - Eu disse, fazendo graça.

João riu. Marcela fez uma falsa cara de indignação pra mim, apertando o olhar e tentando um bico (que era a especialidade de Bruno) mas sem conseguir parar de rir.

- Bela imagem que vocês vão fazer de mim na primeira vez que o João vem aqui. Valeu aí hein.

- Ah Marcela, deixa pra gente começar a mentir depois né? - Bruno disse, e eu tomei uns dois goles da garrafinha de Ice dele.

- Né? Sem a gente como é que ele ia ficar sabendo coisas vergonhosas sobre você, tipo ter uma coleção de cds do KLB escondidos numa caixa de sapatos debaixo da sua cama? - Eu disse, ela foi ficando vermelha e todo mundo ainda morrendo de rir. Breno continuou:

- Ou o fato de ter ido pra diretoria na quarta série (eu acho) por ter colado um chiclete no cabelo enorme de uma menina mó gata que fazia o quinto ano porque ela disse que você não sabia dançar ballet! Eu me lembro.. - Eu comecei a rir incontrolavelmente.

- Que malvada, Marcela. - João observou. - E a menina? Teve que cortar o cabelo, né?

- Três dias depois, eu e.. acho que era o Bruno, a gente viu a pobre chegando na escola com a maior cara de desgosto e o cabelo tão curtinho que era quase na orelha...

- Dessa eu não sabia, coitada da menina, Marcela! -Verônica falou levantando, assim como Sal, Alice e Bruno, para trazer a comida pra onde a gente tava.

- Ah, mas dessa aí eu me lembro! - Marcela se manifestou revoltada. - Eu admito que fui pra diretoria por isso, só que quem jogou o chiclete na cabeça dela não fui eu não. Não é, dona Rebeca?

- Ah gente, o que é que eu podia fazer? A menina era mó biscate, tinha ofendido minha amiguinha, eu precisava me vingar, pô... - Todos me olharam com uma cara ironicamente assustada. - Fora que nunca desconfiariam de uma garotinha da segunda série meiga e inocente como eu, logicamente.

- "Inocente"? - Alice, Marcela e Verônica disseram.

- Me lembre de morrer seu amigo, Beca, por favor! - João disse, mesmo sendo sarcastico ele conseguia ser completamente doce.

- Idem! - Falaram todos, enquanto serviam seus pratos e eu claro, fiz questão de uma careta boba para todos eles.

- Mas, mudando de assunto... - Sal começou a falar, e, mesmo com a boca cheia de strogonoff com batata frita, a voz dele conseguia ser, no minimo, estupenda. - Isso aqui tá... MUITO gostoso. - Todos concordamos.

- Obrigada, obrigada por alimentarem o ego dos meus magníficos dotes culinários...

- Isso tá realmente muito gostoso, menina. - João falou, dando um beijo carinhoso na bochecha de Marcela, sentada ao seu lado. - Tem algum segredo na receita?

- Bom... Segredo, segredo não tem. - Ela respondeu - Mas não liguem se, por acaso, vocês encontrarem por aí, pelo meio das batatas, o pedaço decepado da mão da Beca... - Verônica fez uma careta, seguida por Breno e Alice. Eu, Marcela e Bruno rimos um pouco além da conta. João e Sal não entenderam muito bem a piada, até eu levantar minha (até esta manhã) linda mãozinha, que agora estava remendada de um lado a outro.

Contamos toda a história da minha mão decepada, com direito a imitações fabulosas do desmaio épico de Verônica feito por Marcela, e do arrombamento da porta do banheiro, por Alice. Comemos toda a comida que havia na casa. Falamos um monte de besteira, de coisa séria, sobre filmes ruins, sobre bandas boas, sobre política e sobre o vício eterno de Verônica por novelas. Quando acabaram todas as "Ices" partimos para o vinho que João havia trago, e o negócio começou a esquentar.

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