segunda-feira

Capítulo 7 - No Love, No Glory (Parte 3)

Os termos "sábado à noite" e "Rebeca sozinha em casa" não cabiam na mesma frase, era um costume, uma regra, uma quase que obrigação. Marcela e João iam ao cinema, Verônica e Breno também, Sal e Alice haviam saido para jantar alguma coisa em algum lugar cujo qual eu não tive o menor interesse em saber qual era, e Bruno, bom... Se ateve a me evitar o dia inteiro. Então lá estava eu, acolhida pelo meu querido sofá, sozinha em casa, com uma colher gigante, um pote de sorvete de cajá, luzes todas apagadas, moleton roxo, meias desiguais e vendo o dvd de "Ghost - Do outro lado da vida" pela trilhonésima vez, chorando feito a vaca sentimental que realmente sou, num sábado à noite. Que beleza.

Passos no corredor precederam os três toques dados na porta do apartamento. Respirei fundo enxugando meu rosto na manga do moleton, deixei o pote de sorvete de lado e me arrastei até a porta para abrir.

- Oi. - Bruno disse simpático, sorrindo sem graça deixando um pouco do aparelho à mostra. - Posso entrar?

- Quando foi que deixou de poder? - Falei, dando de ombros e retribuindo o sorriso. Ele foi entrando e sentou no sofá que eu estava antes. - Pelo menos assim tenho compania para a minha noite solitária.

- Não é muito comum te ver em casa e sozinha uma hora dessas. - Observou Bruno, notando o silencio incomumente predominante no apartamento. Sentei quieta, voltando a por o sorvete no colo e dando "play" no controle do dvd. - Romance melodramático outra vez? Quantas vezes você já viu esse filme?

- Parei de contar na vigésima sétima. E ainda choro toda vez que o Patrick Swayze morre. - Nós dois rimos, quietos, tentando voltar a atenção para o filme, sem sucesso obviamente. Eu baixei a cabeça.

- O que foi? - Ele perguntou com aquela voz de preocupação meiga.

- Nada... Só me desculpe por ontem, tudo bem? Por ter me importado tanto com aquela piada boba. Eu não queria brigar com você... É que as vezes eu não sei como. Eu perco o controle. Paro dessa coisa de pensar coerentemente e acabo falando só um monte de frase sem nexo que vem na minha cabeça, deixando tudo o que eu falo quase rude e sem sentido.

- Tipo agora. - Bruno afirmou sorrindo. Eu sorri, dando de ombros ainda sem olhar pra ele.

- É, tipo agora. Você vai me desculpar? - Perguntei, estirando o dedo mindinho como a gente costumava fazer as pazes quando criança. Ele segurou meu dedinho com o dele.

- Pode ser. - Respondeu e depois assanhou meu cabelo com outra mão, como sempre fazia. - Posso ficar e assistir com você?

Sem responder, botei o pote de sorvete sobre a mesinha e uma das almofadas no colo dele, ainda sem soltar meu dedinho do dele, então me deitei com a cabeça na almofada que tava com Bruno e assim assistimos o resto do filme.

-

Os créditos finais estavam quase acabando, mas mesmo assim não nos movemos do sofá, nem ligamos luz alguma. Ela não soltou minha mão, eu não soltei o dedinho dela, e assim permanecemos em silêncio por só Deus sabe quanto tempo.

- Bruno.

- Oi. - Respondi atento, passando a mão pelo cabelo dela.

- Era você mesmo quem fazia aqueles corações ao redor dos nomes? - Beca perguntou quase sussurrando.

- Era. - O reflexo da luz que vinha do lado de fora me deixava ver o rosto dela sorrindo envergonhada e com o pensamento longe e tão perto dalí. - Por que?

- Não... Por nada. Eu só queria saber. - Continuamos mais um tempo em silêncio. Algum relógio avulso esquecido em cima da mesinha de centro por sorte no caminho que a luz da rua entrava pela janela acabava de marcar onze em ponto, quando ela resolveu levantar do meu colo e voltar ao seu lugar inicial sentada no sofá.

- Beca.

- Oi. - Ela respondeu, jogando o cabelo pro lado e trazendo seu olhar pra mim com uma das sobrancelhas arqueada como fazia quando estava curiosa.

- Eu levaria alguma esculhambação ou tabefe se eu fosse aí e beijasse você agora? - Perguntei cara-de-pau, ela sorriu e falou baixinho:

- Qual a graça de agir sem correr riscos? - Eu sorri, me aproximando. Ainda sem soltar minha mão da mão dela, segurei sua nuca por baixo do longo cabelo castanho com cachos apaixonantes que tinham as pontas, e trouxe a boca dela pra minha.

2 comentários:

Ninguém Te Disse disse...

Música: Hey Rebekah - The Fold *~*

Juliana Melo disse...

BRUNO POR FAVOR, ME ACHE AQUI EM FORTALEZA, EU IMPLOOOOOORO!